Os deuses depostos
Nunca consegui saber a origem da palavra alaúza, pouco usada, sinônimo de bagunça, barulho, desordem. A julgar pelos efeitos da permanente alaúza de "categorias", …
Nunca consegui saber a origem da palavra alaúza, pouco usada, sinônimo de bagunça, barulho, desordem. A julgar pelos efeitos da permanente alaúza de "categorias", exigindo aumentos descomunais de salários, tenho a impressão que é uma reverência à deusa árabe Al"Uzza, a Poderosa, que depois foi desbancada por Allah e convenientemente arquivada no harém. Mas isto já é outra história, como diria Sherazade, a das Mil e Uma Noites.
A mim, pobre mortal, só ocorre um mero decreto: "Art. 1º - Todo o brasileiro já nasce aposentado." Quem me perguntar de onde sairá o dinheiro para tanto, é simples - o Artigo 2º terá a seguinte redação: "A partir de hoje, as bananeiras serão obrigadas a substituir seus cachos por sacos de dinheiro." O resto é o clássico "revogam-se as disposições em contrário".
Minha dúvida é se as bananeiras também não farão a sua própria alaúza e arão a dar uma solene banana a cada um de nós. Aí, então, só apelando para alguma divindade que se disponha a convencer os sumos sacerdotes desta pátria tão amada, salve, salve, que dinheiro não nasce em árvores. Mas não será alguma das divindades conhecidas, todas revogadas, como testemunhou meu querido amigo Paulo Victorino, jornalista paulistano.
Em um domingo, vestido de terno, gravata e sapatos lustrosos, um homem de seus 70 anos caminhava no rumo de uma igreja das imediações, segurando a Bíblia na mão esquerda. A manga direita do paletó estava enrolada, presa com alfinete, mostrando a perda do braço direito. Um mendigo pediu-lhe uns trocados.
Ele reagiu:
"Esmola?! Nunca! Trabalhei a vida inteira e trabalho até agora!"
O mendigo respondeu de pronto:
"Por isso é que já gastou um braço!"