Os amores de Tiradentes

Uma pessoa, cujo nome não me ocorreu perguntar, me encontra no "shopping", diz que "a-do-rou" os amores aqui contados (em março), de Caxias e …

Uma pessoa, cujo nome não me ocorreu perguntar, me encontra no "shopping", diz que "a-do-rou" os amores aqui contados (em março), de Caxias e Osório, e me pede mais, já que estamos às vésperas do Dia dos Namorados. Sugeriu que falasse de Tiradentes, o mais festejado e o menos conhecido dos nossos heróis pátrios.


Já li, escrevi e falei algumas vezes a respeito. Lamento, mas ao repetir o relato, sinto que  vou decepcionar de novo a quem espera uma tragédia amorosa digna de uma ópera épica. Tiradentes, segundo os registros históricos, foi adepto das "amizades coloridas" ou de "ficar", como se diria hoje. A imoderação se deveria à desilusão com uma noiva que "não se portou bem", conforme  expressão da época.


Tiradentes era conhecido pela assiduidade com que freqüentava "aquelas casas". Um desses antros era o das Pilatas - Maria Rosa e  suas filhas, Simplícia Maria e Ana Maria da Silva. Pilata é a pia de água benta. As três mulheres ganharam o apelido  porque nelas todos botavam a mão. Testemunharam no processo que condenou Tiradentes, contando que ele lhes prometia coisas quando se tornasse poderoso.


Houve também mexericos, recolhidos cem anos depois pelo escritor Joaquim Manoel de Macedo, sobre uma Perpétua Mineira, mulher de Minas Gerais, obcecada por perpétuas, flores que no Sul conhecemos como sempre-vivas - daí o apelido. Os dois teriam se apaixonado e vivido um tórrido romance, até Tiradentes ser enforcado.


Macedo acrescentou alguns elementos dramáticos aos mexericos: Perpétua teria desmaiado no momento da execução, ao encontrar aos pés da forca algumas perpétuas que dera a Tiradentes, e também um lenço manchado de sangue, com as iniciais JJSX (José Joaquim da Silva Xavier), bordadas por ela com muito amor.


Pouco provável. Se  Perpétua Mineira existiu de verdade, cultivou flores e bordou lenços, não se arriscaria a desmaiar de emoção diante da forca onde estrebuchava o bem-amado. Com o terror imposto pelo Vice-Rei para reprimir qualquer revolta, logo que Tiradentes foi preso ela foi "às de Vila Diogo", como se dizia então. Ou deu no pé, sem flores nem lenço nem documento. Como falaríamos hoje.

Autor

Jayme Copstein é jornalista, com atividade em jornal e rádio desde 1943,com agens pelos principais veículos de Porto Alegre. Trabalhou 22 anos no Grupo RBS como apresentador de programas e comentarista de opinião da Rádio Gaúcha, e atualmente é colunista do jornal O Sul e apresentador do programa 'Paredão', na Rádio Pampa. Detentor de vários prêmios, entre eles, Medalha de Prata (2º lugar) no Festival Internacional do Rádio de Nova York (1995), em 1997 publicou "Notas Curiosas da Espécie Humana" (AGE). Seu livro mais recente é "A Ópera dos vivos", editado em janeiro de 2008.

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