Os 250 anos de uma cidade que nem sempre me deixa alegre b5t69

Por Márcia Martins 201e6b

23/03/2022 13:08
Os 250 anos de uma cidade que nem sempre me deixa alegre

Gosto da Porto Alegre que abraça os moradores com seus recantos, parques, praças, museus, teatros, casas culturais e demais encantos de uma cidade que amadureceu, mas não deixou as rugas do envelhecimento lhe tirarem o brilho e o frescor da juventude. Pelo contrário, procura estar antenada com tudo o que diz respeito à modernidade. iro na capital gaúcha locais tão clichês que, mesmo morando nela desde que nasci, continuam me envolvendo e me fazendo a cada eio, descobrir novas atrações até então escondidas no meu inconsciente de cidadã porto-alegrense. 262l5t

As ruas do Bom Fim, meu bairro de moradia por muitos e muitos anos. Conheço ali cada detalhe daquele canto, seus edifícios, seu comércio e até os moradores de rua mais antigos. Sim, o Bom Fim é um clichê, mas eu sempre vasculho algo novo que me deixa mais apaixonada mais do local. A Redenção e seus pedaços verdes que assistem ao crescimento da construção civil nos seus arredores. Sim, a Redenção é um clichê, mas nela eu me perco e me encontro, principalmente agora que sou moradora da Cidade Baixa, a umas três quadras desta maravilha da natureza.

Mas eu adoro também caminhar pela Rua dos Andradas, desde o seu início ali no Gasômetro até seu término na Rua Senhor dos os. Sem pressa. Com paciência para irar o calçadão, os ambulantes, o comércio e o vaivém nervoso dos trabalhadores na entrada e saída de seus serviços. É um clichê de todo porto-alegrense gostar da rua mais conhecida como da Praia. Só que em cada ida minha àquela via, eu descortino uma nova história, me deparo com uma nova vida e me ponho a imaginar rotinas diferentes da rua.

A Casa de Cultura Mario Quintana, a Orla do Gasômetro, os cinemas que migraram para os shoppings, os cafés diversos no bairro Cidade Baixa, os bares que movimentam a vida noturna e até mesmo o Parcão, que não tem a minha total simpatia. Mas são símbolos de uma cidade que me abriga, me acolhe e me orgulha. Sou totalmente porto-alegrense, daquelas assumidas e apaixonadas, e umas duas vezes, por questões puramente profissionais, pensei em deixar a capital gaúcha. Mas minha ligação com Porto Alegre, que comemora esta semana, os seus 250 anos, impediu o afastamento.

Só que a cidade que eu amo nem sempre me deixa alegre. Pelas ruas, quando posso caminhar em função do isolamento da pandemia da Covid-19, entristeço ao olhar os postes sem iluminação, a coleta de lixo deixando a desejar, as ruas sem nenhuma segurança para transitar de dia e de noite e as praças e parques no total abandono. Nas caminhadas pela Cidade Baixa, para onde me mudei em agosto de 2019, não consigo segurar as lágrimas ao ver o absurdo crescimento da população de rua, cuidando de pertences arrecadados nos containers de lixo, mendigando um pouco de dignidade e dormindo sob as marquises.

Essa Porto Alegre me apunhala e me destroça. A cidade que não tem políticas públicas para as mulheres me tira a esperança do olhar. A cidade que tem o transporte coletivo quase depenado, sem investimentos, e com ageiros entulhados, me provoca um sentimento de aflição. A cidade que apresenta uma saúde pública precária, pela falta de vagas e fechamento de hospitais, me deixa melancólica. A capital gaúcha que aboliu o uso de máscaras em locais abertos e fechados (com poucas exceções), ignorando que ainda estamos em pandemia, me provoca consternação.

Quero, um dia, quem sabe, ver estes problemas resolvidos na cidade que eu amo e onde quero sim terminar minha história. Porto Alegre tem tudo para voltar a me deixar 100% feliz.