Onde estão as políticas públicas para as mulheres?

Por Márcia Martins

A ausência de políticas públicas para as mulheres nas três esferas de governo provoca um aumento preocupante nos números de violência contra a mulher. Dos diferentes tipos, principalmente os que envolvem a motivação de gênero: física, psicológica, moral, patrimonial, sexual e a agressão física, que pode culminar com o feminicídio, o final mais cruel deste ciclo de desrespeito à vida das mulheres. Já escrevi antes, mas reforço: o Brasil é um dos países que mais mata mulheres no mundo. De 82 pesquisados pela ONU, o nosso País ocupa o quinto lugar, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia.

Por isso, é muito importante cobrar das autoridades a urgência das políticas públicas para reverter estes dados, como vagas em creches e escolas para os filhos, sistema de saúde eficiente e não excludente e programas de geração de renda para reduzir o desemprego e permitir que a mulher agredida tenha uma chance de sobreviver financeiramente. E uma rede de enfrentamento à violência contra as mulheres que realmente seja forte, articulada e resolutiva.

Na segunda-feira (9), o Levante Feminista Contra o Feminicídio, em dossiê entregue em audiência pública na Assembleia Legislativa, expôs um cenário mais cruel ainda no Rio Grande do Sul. De 1° de janeiro a 9 de maio, o Estado teve 36 casos de feminicídios consumados. E reivindicou políticas efetivas, com ações concretas e urgentes, para reduzir a violência de gênero e evitar mais mortes de mulheres. Em matéria publicada no Extraclasse, o dossiê aponta que o sucateamento de políticas públicas gerou um retrocesso de conquistas e o aumento de casos no Rio Grande do Sul.

Enquanto não existirem governantes preocupados em reverter este quadro de crescimento da violência, continuaremos chorando pelas vidas de Marias, Anas, Joanas e outras. Devemos, nós mulheres, prosseguirmos unidas em uma luta unificada, lembrando que as nossas vidas importam, que precisamos sim ser respeitadas, que as nossas vozes devem ser ouvidas. Só assim, poderemos, quem sabe, um dia, comemorar a redução nos números de feminicídios e de todos os tipos de violência contra as mulheres.

Do contrário, o Rio Grande do Sul, permanecerá oscilando entre o terceiro e o quarto Estado que mais mata mulheres pela questão de gênero. E o Brasil seguirá com o índice alarmante de um assassinato motivado pela condição feminina a cada sete horas.

Perdão se a coluna ficou pesada, áspera e até indigesta. Mas assim tem sido as vidas das mais de 50 mil mulheres agredidas por ano no Brasil. 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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