Olim (piadas)

Olimpíadas. Alguém disse que um dia elas acontecerão no Brasil. Fu Lana já imaginava o Maracanã lotado de mendigos (claro, artistas caracterizados de), em …

Olimpíadas. Alguém disse que um dia elas acontecerão no Brasil. Fu Lana já imaginava o Maracanã lotado de mendigos (claro, artistas caracterizados de), em uma coreografia ousada, criada por alguma escola de samba. Haveria também um Cristo encapuzado. Banhistas, bolas de praia, índios. Imaginem a abertura dos jogos olímpicos no Brasil.


Chegariam as caravelas, empurradas pelos experientes colaboradores braçais que movimentam ano após ano os carros alegóricos na avenida. Muita mulata, bundas de fora e samba, na sandália salto quinze.


Deveria ser também representado na Olimpíada brasileira tudo que já fez parte da polêmica história do país. Uma eata da TFP defendendo os direitos de família, pátria e propriedade. Soldados e tanques nas ruas, aços. Nisso, apagarão as luzes e, ao invés de um silêncio disciplinado, o que se ouviria seria gente gritando e colidindo, procurando a saída correta. Aproveitadores já surrupiariam parte do cenário.


Em um canto do gramado, que não estaria protegido por uma espessa camada tecnológica, haveria uma casinha de sapê ou de bambu. No meio da confusão, um sujeito matuto estaria ali, de bermuda esfiapada e chinelo de dedo, olhando as estrelas e tomando uma branca ou um chimarrão. Estaria longe de sua cidade. (Muitos brasileiros estão longe de suas terras e precisam das estrelas, pois dizem: elas são iguais em todas as partes do mundo.) Alheio à balbúrdia, entraria no barraco, coçando as costas no telão, e assistiria televisão.


Poderia também ser montada uma enorme favela colorida. Uma visão romântica que representa um fenômeno estético em nossos país.


Pode ser (e é) preconceito, mas nós, e Fu Lana evidentemente se inclui não sendo chinesa, não somos capazes de levantar um braço de forma igual a do nosso vizinho. Somos dispersos de nascença. Os comandos em nossa trajetória não am de tentativas. Somos um povo que não aceita controles e não curtimos os extremos políticos.


Somos diferentes, até mesmo entre nós. Existem brasileiros de todos os tipos e cada um é um. Nós detestamos a ordem unida.


Os gaudérios só se sentem bem em cima de cavalos. O que nos sugere que poderíamos optar por um número de rodeio no espetáculo. E existem também os grupos folclóricos que cohabitam em todo o território nacional. Milhares de gaúchos e prendas dançariam a chimarrita e o sapateado da chula. Os cariocas viriam vestidos a rigor e dariam asas à dança de salão, no campo ambientado em um grande cabaré, com centenas de casais istas. Mambembes e maracatus desfilariam pelo gramado esburacado. Se chovesse, a galera iria empurrar com orgulho os carros alegóricos, com água até o joelho, e tirariam nota dez. Desde a sanfona à musica tropical baiana, tudo iria soar muito brasileiro.


A Olimpíada no Brasil iria nos traduzir para o mundo: um Brasil ingênuo, lotado de indivíduos esforçados. Seríamos incapazes de representar o coletivo, maciço e totalitário. Em um time de futebol canarinho, por exemplo, cada jogador é diferente. Um arria as meias, outro põe trancinhas na cabeça, e tem aqueles que jogam com a camisa para fora dos calções. Em uma comemoração oficial, em caso de vitória, sentem-se como em um boteco, tomando todas, enfiando as meias na cabeça, jogando as chuteiras para cima.


Não somos militarizados e nossos tempos foram sempre multicoloridos. Aquele Tai-chi, realizado por 2008 pessoas na China, no Brasil, iria se transformar em 2008 coreografias diferentes. Nunca teríamos o mesmo marchar científico.


Seja bom ou ruim, assim somos nós. Poderíamos dizer que temos o gene da criatividade mas também que somos egoístas, individualistas e alienados. É questão de ponto de vista.


Brasileiro não é massa nem aqui e nem na China.

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