O verso e o reverso
Para a revista espanhola La Vanguardia, a América latina "está aos pedaços", nunca tão dividida como agora. Praticamente não há um país que se …
Para a revista espanhola La Vanguardia, a América latina "está aos pedaços", nunca tão dividida como agora. Praticamente não há um país que se dê bem com o outro. A tão propalada integração continental transformou-se num bate-boca como uma família desunida. Embora não o acuse de ser o promotor das dissensões, La Vanguardia deixa permear que Hugo Chaves, presidente da Venezuela, é um dos seus principais agentes. "Ele não é o que na Europa se chamaria de esquerdista", diz o perito em América Latina da Fundação Friedrich Herbert, Wolf Grabendorf, ao Deutstche Welle, de Genebra. "De certa forma é comparável com o que foi Peron."
Wolf lamenta que, no momento, não exista um porta-voz qualificado da América Latina. Enquanto isto, como se verificou na última reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) realizada há quinze dias em Belo Horizonte, os bancos estavam eufóricos, vendo um novo tipo de situação, diferentemente de uma década atrás. "É um populismo diferente", diz Vitali Meschoulan, analista latino-americano do HSBC. "Os governos necessitam cumprir promessas como educação e saúde. Instituições funcionam melhor, os contratos são mais firmes, a inflação está controlada."
O ROMPIMENTO DE ALIANÇAS
Joaquim Ibarz, enviado pela Vanguardia a La Paz, conta que, somente apenas 16 meses após seu nascimento a Comunidade Sul-Americana de Nações, inspirada na União Européia, a região está dividida. O Peru apresentou queixa na Organização dos Estados Americanos (OEA) contra a Venezuela devido à tentativa de ingerência em suas eleições: "A este desencontro da Venezuela com o Peru somam-se os ocorridos com a República Dominicana, Costa Rica, Colômbia, Nicarágua, El Salvador e especialmente o Chile, pela imprudência de Chávez reinvidicando o mar para a Bolívia", escreve Ibarz.
A Venezuela retirou-se da Comunidade Andina das Nações (CAN) formada por Bolívia, Colômbia, Peru e Equador, argumentando que os tratados com os EUA fragilizavam o bloco. Nesta terça-feira, 16, a Argentina cortou o fornecimento de gás ao Chile, alegando necessidades de consumo interno e obras de manutenção de seu gasoduto. Segundo a Reuters, os dois governos ainda estão em negociações.
Mais ao sul, Uruguai e Argentina atravessam um dos piores conflitos de sua história recente. Trata-se da instalação de duas fábricas de celulose no rio fronteiriço aos dois países. Ambos apelaram para o tribunal de Haia, o que aumentou as tensões. Outra rixa surgiu quando o presidente Tabaré Vásquez disse aos seus sócios no Mercosul, Lula da Silva e Nestor Kirchner, e ao próprio Hugo Chavez, todos de esquerda, como ele, que o bloco já não serve aos seus interesses. Por isto vai retirar-se da aliança caso seja impedido de negociar um acordo com os Estados Unidos.
A ALEGRIA DOS BANCOS
Os bancos e fundos de investimento, com volumes de recursos para aplicar, não vêem a situação como "novo populismo", onde os líderes necessitarão recursos para demandas sociais. O que explica esta aparente complacência? A América Latina, segundo o Financial Times, "é a que mais se tem beneficiado dos novos padrões da economia global, notadamente o rápido crescimento econômico e os altos índices de poupança da Ásia, que estão a sustentar um boom de gastos do consumidor nos EUA. Os fabricantes asiáticos estão vendendo para os consumidores americanos, com a demanda sustentada pelas baixas taxas de juros e crédito abundante".
Com isto, de diversas maneiras, primeiro com a demanda asiática, especialmente a chinesa, por matérias-primas, elevam-se os preços. A siderurgia suga o minério de ferro. Para o Peru e o Chile, a construção de hidrelétricas na China traz demanda de cobre. Pecuaristas e produtores de soja brasileiros têm se beneficiado com os bons preços destes mercados. "Mas a América Latina não terá um crescimento sustentado enquanto for apenas uma exportadora de matérias-primas", sentencia The Economist.
