Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, nos alerta para uma crise silenciosa em A Crise da Narração: a erosão das histórias que dão sentido à experiência humana. Ele observa que, na modernidade tardia, a vida se fragmenta em informações efêmeras, desprovidas de uma trama que as una. "As informações não se deixam vincular em uma narração. Com isso, as coisas se desfazem. O contexto significativo cede seu lugar à justaposição e à sucessão sem sentido dos acontecimentos", escreve Han. Sem histórias que nos conectem, restamos ilhados em um mar de dados, incapazes de construir um significado comum.

Vocês querem storytelling, mas o que têm é fluxo. Um encadeamento apressado de fatos, sem pausa, sem respiro. Narrar, no sentido profundo, exige tempo, memória e partilha. As histórias verdadeiras não são moldadas como produtos prontos para o consumo. Elas não são slogans, nem estratégias de engajamento. São raízes que sustentam, fios que ligam ado e futuro, sentidos que se entrelaçam na experiência humana.

Han sugere que a verdadeira narração transforma o "ser-no-mundo" em um "estar-em-casa", oferecendo abrigo simbólico e enraizando-nos na existência. Mas, ao invés de buscarmos essa conexão, nos afundamos em discursos instantâneos, tão leves que evaporam antes de serem absorvidos. O que antes era história virou mercadoria: vendemos não apenas produtos, mas versões simplificadas de nós mesmos, embaladas para rápida aceitação.

A Vida, no entanto, não se dobra a roteiros prontos. Ela se escreve no entrelaçamento das experiências, no silêncio entre as palavras, na escuta do que pulsa entre as linhas. Não se trata de inventar histórias, mas de escavar as que já existem. Aquelas que resistem ao tempo, porque são essencialmente humanas: memória, pertencimento, transformação.

A história já está aí, sussurrando entre os ruídos. Ouça sem pressa. Não a controle, seja levado por ela.

Com amor, Vida.