O susto do dia
O que você faria se estivesse andando pela rua onde mora, com seus dois pequenos vira-latas, um deles bastante doente, quase sem poder caminhar, …
O que você faria se estivesse andando pela rua onde mora, com seus dois pequenos vira-latas, um deles bastante doente, quase sem poder caminhar, por isso vinha no meu colo, quando dá de cara com um doberman solto, sem coleira ou guia e totalmente desorientado? Foi o que aconteceu comigo na manhã desta sexta-feira, dia 20 de fevereiro, perto das 10 horas da manhã.
Pois muito bem: na Rua Marquês do Pombal, onde moro, não há mais muitas casas. Mas eu ava justamente na frente da única casa que a especulação imobiliária não tirou do lado par da rua. E simplesmente invadi o pátio externo, fechando portões. Vi que havia uma senhora elegantésima, que vejo sempre na casa, de idade sempre-jovem, daquelas que os anos não enfeiam nem envelhecem por mais que em, uma jovem e outra senhora, que trabalha na residência.
Fui me justificando e o cachorro no portão. Eu dizia: "a, vai, fora, sai daqui" e ele me olhava, língua de fora, desesperado. E os meus dois cuscos já querendo conversa com aquele animal imenso, puro músculo, dentes de tigre.
Terminei sendo colocada no pátio interno e o cachorrão, num descuido da dona da casa, invadiu o primeiro pátio. Mas nem água queria. Estava apavorado. Aquele imenso bicho queria carinho, atenção, socorro. Não demorou apareceu um rapaz que contou que o bicho havia sido atropelado diante de sua loja, na Avenida Cristóvão Colombo, e jogado longe. Como é um cão forte, levantou e saiu correndo e quase foi atropelado novamente.
Noves fora o susto que tomei, acho que as coisas acontecem por um misterioso mecanismo que une tudo neste universo. Como boa e assumida cachorreira, acho que eu estava ali na hora certa e possivelmente este animal ferido (estava com um corte na costela direita) ou teria morrido em outro atropelamento ou quem sabe, no desespero e na dor, atacado uma criança ou um outro cão que andasse por ali. Não. Por favor. Não me considero missionária nem indicada pelos deuses, caninos ou humanos. Só não acredito nas coincidências puras e simples.
Imaginem se eu entrasse na casa de uma gente antipática, que com toda razão me acusaria de invasão? Ou se ao espantar o cachorro ele corresse para a rua e um carro o colhesse? Ou ele corresse e atacasse uma pessoa idosa?
Para encurtar essa historinha de véspera de Carnaval: quero agradecer aqui à Brigada Militar, para a qual telefonei via 190, e que, mesmo me contrapondo que não é função da corporação recolher cachorros, foi sensível à minha argumentação de que era um caso de segurança pública um animal deste tamanho solto na rua. Também agradeço ao Corpo de Bombeiros, que igualmente foi sensível aos apelos feitos - aliás, esta semana mesmo já havia salvado um pobre animal que fora jogado no Arroio Dilúvio.
Nestas horas, em que homens de farda, que enfrentam tanto perigo e na maior parte das vezes são vilipendiados ou por cometer erros ou por não conseguir botar ordem nesta imensa muvuca que virou a vida, pois é nestas horas que se vê o que é a humanidade e a bondade do ser humano.
É sempre uma lição importante para nós, que estamos sempre reclamando de tudo, ver um militar, mesmo nos alertando severamente, de chegada, que esta não era sua função, além de recolher o doberman, pegar um vira-latas no colo (meu cachorrinho, Occhi) e me permitir retornar, em segurança, à rua, para eu voltar à segurança da minha casa. E se eu fosse a BM, adotava aquele cachorrão que várias vezes me lambeu as mãos e me deu a pata, implorando para ficar ao nosso lado, numa casa estranha, em meio a estranhos.
Quando vamos aprender a respeitar nossos irmãos animais, filhos do mesmo Pai, tão importantes quanto qualquer um da criação e que merecem tanto amor e cuidado quanto qualquer criança abandonada ou velho sem teto? Garanto que a vida seria muito melhor se a gente não fizesse tanta maldade que a natureza e tudo o que ela gera.
Quanto ao dono do doberman atropelado, espero que não tenha sido do tipo que, em época de festa, bota cachorro, gato e tudo que é "animal de estimação" fora porque não tem onde deixar. Ou pior: que não seja destas empresas de segurança que usam cães em vez de gente e que nem sempre lhes dão o respeito que estes seres, muitas vezes melhores do que muita gente merece.