O robô amalucado e as leis de Asimov

Por Flávio Dutra



Pensei que jamais veria a cena que viralizou nas redes sociais na semana ada: um vídeo mostra um robô humanoide fora de controle, agindo de forma agressiva contra engenheiros em uma fábrica da China. Durante uma fase de testes, o robô, um Unitree H1, entra em colapso e começa a se mover violentamente, atingindo um dos profissionais e derrubando equipamentos. A máquina só foi contida ao ser desligada.

 O episódio reacendeu o debate sobre a segurança dos robôs humanoides em ambientes de trabalho e, sobretudo, sobre o que o futuro nos reserva na relação homens x máquinas.  De imediato, internautas compararam o robô ao "Exterminador do Futuro" e  projetaram  uma revolta das máquinas, hipótese que os especialistas no tema descartam.  Nesse contexto, vale lembrar a advertência de mais de 300 cientistas, feita há dois anos, sobre o impacto da Inteligência Artificial no nosso cotidiano e a necessidade de mitigar potenciais ameaças à raça humana pelas novas tecnologias.  A atitude do Unitree H1 seria um aviso de que o apocalipse está chegando? Existiriam outros episódios dos quais não tomamos conhecimento?

A verdade é que o robô amalucado teria contrariado as três Leis da Robótica, formuladas por Isaac Asimov. No livro  "Eu, robô"  Asimov já previa - em 1950! - um mundo onde robôs e seres humanos coexistiriam, sendo as Leis da Robótica formas de prevenir riscos do avanço da IA sobre a humanidade. As três leis:

1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal

2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei

3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis

Em outra obra, "Robôs e Império", Asimov cria uma quarta lei, denominada de Lei Zero, reforçando os preceitos das leis anteriores:

Lei Zero: Um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por inação, permitir que ela sofra algum mal

"Eu, Robô" chegou ao cinema em 2004, com Will Smith de protagonista, mostrando robôs usados como empregados dos humanos em 2035 - daqui a dez anos, portanto. Mesmo dotados de um código que impede a violência, um importante cientista é morto e as suspeitos am a ser os robôs. O filme está disponível no Disney+. 

Tive contato com a obra de Asimov nos anos 1970, na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Ufgrs, por indicação do professor Marcelo Casado de Azevedo, um homem adiante de seu tempo, que introduziu para os futuros jornalistas os fundamentos do que, na época, se conhecia por Informática. 

Mais de 50 anos depois, o debate sobre o nosso futuro sob o impacto da IA  está posto e cada vez mais aprofundado, mas, por enquanto, gerando mais dúvidas do que certezas. A todas essas, o temor deve ser com outra lei, a de Murphy e seu teor negativo: "Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará".

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

Comments