O rio do tempo
Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Se não perguntam o que é o tempo, eu o entendo; mas se perguntam, não sei responder."
Santo Agostinho.
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Depois de concluir a leitura de "Ulysses", de James Joyce, o poeta Jose Luis Borges vai em busca de palavras que possam expressar sua perplexidade sobre o tempo e a memória.
Escreve "Funes, o Memorioso", um conto de doze páginas, que pode ser lido como uma reflexão à moda de Joyce. A seguir, em "O Outro", simula um encontro consigo mesmo quando era jovem, mais joyceano do que nunca. E se vale da imagem do rio que a para ilustrar a memória afetiva:
A água cinzenta carregava grandes pedaços de gelo. São os fragmentos do tempo que a por nós".
Mais adiante, Borges relembra do sábio grego, que afirmava que ninguém pode se banhar duas vezes no mesmo rio. E completa: "Porque é um outro rio que a".
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Replicando Marcel Proust, o poeta vai em busca do tempo perdido, quando descreve a memória como água que flui e que carrega vestígios da adolescência que não possui a história de agora. E faz com que o Borges-Jovem, interrogue o Velho-Borges sobre a vida, livros e o ofício de escrever. A resposta é que o esquecimento é como um irmão gêmeo da memória. Em 1975, ele retomava o tema e declara:
"Eu sou, amigos, aquele que sabe que não há outra vingança além do esquecimento (...) ".
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Como Joyce, ele está nos dizendo que a memória é dinâmica, com contornos imprecisos e que raramente é fiel aos fatos que aconteceram. Ela chega a nós como um quebra-cabeça mágico, ao qual sempre faltam peças. Mesmo quando não menciona o nome do autor de "Em Busca do Tempo Perdido", Borges não deixa de invocá-lo, como em "Funes", ao sugerir que o excesso de memória pode nos transformar em seus prisioneiros:
"Com o ar dos anos, somos condenados a carregar o peso crescente da memória".
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