O que você deveria saber sobre Israel, mas a mídia não conta

Por Marino Boeira

Agora que se estabeleceu uma precária paz em Gaza é o momento para, se valendo apenas de fatos historicamente comprovados, contar um pouco dos acontecimentos que se desenrolam na Palestina há mais de 100 anos para se chegar às seguintes conclusões:

1)    Israel é estado colonialista e racista porque construído com base no sionismo, uma doutrina que exclui os não judeus de boa parte dos direitos de cidadania.

 

2)    Israel é um estado construído sobre terras onde viviam populações árabes há séculos, com a conivência do imperialismo inglês a partir da primeira guerra mundial.

 

3)    Sua criação foi justificada como uma espécie de compensação pelos sofrimentos impostos aos judeus pelo nazismo, sem que as populações locais fossem consultadas.

 

4)    A criação de Israel pressupunha a formação de um outro estado, esse Palestino, possibilidade que Israel sempre boicotou de forma diplomática e militar.

 

5)    A solução de dois estados na região, um judeu e outro árabe, é hoje totalmente impossível.

 

6)    A única solução, aparentemente impossível, é o fim do estado sionista e a construção de outro modelo, democrático, laico e aberto a todos, sejam judeus, árabes, muçulmanos ou cristãos.

Para contar a história da formação do estado de Israel me socorro de três historiadores, todos eles de origem judaica: Shlomo Sand, 78 anos, professor emérito de História da Universidade de Tel Aviv, com seu livro A Invenção do Povo Judeu; Norman Finkelstein, Doutor em Ciências Polícias pela Universidade de Princenton, Estados Unidos e filho de pais mortos em Auschwitz, com seu livro A Indústria do Holocausto e Ilan Pappé, 70 anos, professor da Universidade de Exeter, no Reino Unido e seu livro Limpeza Étnica na Palestina.

Em síntese esses três escritores de origem judaica (poderiam ser incluídos ainda o linguista e filósofo Norman Chomsky, 96 anos e a filósofa Judith Butler, 68 anos, também críticos de Israel) dizem:

1)    Os judeus sempre foram povos nômades, voltados para o comércio. Não houve uma expulsão deles da Palestina dominada por Roma. Desde aquela época eles formaram comunidades fechadas voltadas para o comércio e prática da usura, sofrendo com isso constantes perseguições em vários lugares, principalmente na Rússia (os pogroms).

 

2)    O caso mais dramático foi o chamado Holocausto quando milhares foram mortos nos campos de extermínio montados pelos nazistas. A revelação desse genocídio comoveu o mundo e facilitou a pregação que o jornalista judeu austríaco Theodoro Herzl (1860/1914) vinha fazendo desde o início do século XX para a criação de um estado judaico, de preferência na Palestina, embora Herzl tenha itido que poderia ser em Uganda, na África.

 

3)    No final da primeira grande guerra, o banqueiro judeu Rothschild negociou com o primeiro ministro Lord Balfour o apoio a criação de um "lar para o povo judeu" na Palestina em troca do financiamento aos ingleses na guerra contra Turquia. Começa então o êxodo de judeus de toda a Europa para a Palestina, que se ampliou depois da Segunda Grande Guerra.

 

4)    Embora Balfour tenha deixado uma cláusula expressa de proteção aos palestinos que viviam na região, todos os governos de Israel, de esquerda ou de direita, começaram uma política expansionista que incluía a expulsão dos árabes palestinos de suas cidades e causas.

 

5)    O holocausto judeu na Segunda Guerra só começou a ser usado como argumento de defesa dos direitos de Israel sobre a Palestina depois da chamada Guerra dos Seis Dias, que o país travou em 1967 contra Egito, Síria e Jordânia. Até então os movimentos armados judeus como o Irgun, o Lehi, o Haganah e o Palmach,que lutaram na guerra da independência contra os ingleses, não viam com bons olhos a ividade dos judeus nos campos de extermínio nazistas.

Quem não conhece esses fatos não pode entender o que acontece hoje na Palestina e porque a paz agora negociada não será, infelizmente duradoura.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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