O problema da geração que busca o arco-íris

Por Luan Pires

Toda geração é uma resposta à geração anterior. Se a Geração X (nascidos entre 1965 e 1981, durante a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial) buscava solidez, estabilidade e se contentava com questões práticas e individuais, seus filhos, a Geração Millennial, foi criada como resposta a isso. Todos cresceram ouvindo dos pais que ao contrário deles poderiam só estudar e depois só trabalhar, que a vida só faz sentido com um propósito (já que a Geração X não teve nem chance de pensar nisso) e que mais importante do que dinheiro é trabalhar com o que se gosta. Mais do que estabilidade, os Millennials cresceram na busca da felicidade. Uma caminhada atrás do arco-íris que sempre se afasta no horizonte.

E que péssimo momento para buscar a felicidade, não é? Sendo a primeira geração que transacionou do mundo analógico para o digital como acontecimento modelador de comportamento. Ou seja: uma geração que busca ser feliz enquanto é esmurrada na cara todo dia pela felicidade alheia filtrada pelas redes sociais. O arco-íris dos outros sempre vai parecer mais perto desse jeito, né? Haja terapia, preocupação com a saúde mental e falta de paciência em lidar com empresas que não consideram vida pessoal na equação do relacionamento colaborador e resultados.

Felicidade é uma percepção macro, não é momentânea e nem exclusiva a momentos felizes. É um estado da alma, espírito, coração (ou seja lá qual nome vocês, humanos, precisam usar). Eu, como Vida, nunca fui tão questionada sobre porque algumas pessoas têm vidas melhores que outras pessoas. Quando ouço isso, sempre penso: ele está qualificando a vida inteira de alguém por um único momento, uma única postagem, uma única conquista, sem considerar o caminho e o todo.

Vocês podem ter sido moldados de diferentes maneiras pelos pais, acontecimentos e anos que nasceram, mas a essência é a mesma. Suas histórias têm capítulos diferentes, mas são presas a mesma necessidade: amar e ser amado (e aqui falo de amor no sentido mais amplo que possam imaginar). Todos têm traumas de infância, independentemente do tamanho deles. Todos choraram por alguém que amaram quando descobriram que essa pessoa não era quem achavam que ela deveria ser. Todos vocês se sentem cansados, sobrecarregados, correndo sempre atrás de uma vitória que desmorona quando você a alcança. "A vida do homem oscila, como um pêndulo, entre a dor e o tédio", já disse um humano que simpatizo muito e que já não está entre nós, o filósofo Schopenhauer. Vocês querem o querer algo, mas nunca ficam satisfeitos. Todos vocês se arrependem do que dizem, são medrosos como crianças entrando no jardim de infância pela primeira vez e precisam de amor mais do que vocês falam por aí nas redes sociais. 

Mesmo assim, tenho um recado para os Millennials que me leem: vocês não são cadeiras. Quando vocês constroem uma cadeira ela já nasce com a finalidade de ser abrigo ao bumbum de vocês. Mas, repito: vocês não são cadeiras. A função da existência de vocês só existe após vocês existirem. A existência precede a essência. Ou seja: nada está escrito em pedra. Nada foi definido para você (eu não defini nada). Vocês podem escrever suas histórias como quiserem, eu acompanho, e brinco, e participo, mas quem está segurando a caneta são vocês, não eu. 

A felicidade pode ser o que quer que vocês queiram que ela seja.

Com amor, Vida.

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

Comments