O presente mais bonito é viver
Uma eterna paixão por propaganda e, principalmente, por publicidade veiculada em datas comemorativas – Dia da Criança, Namorados, Mães, Pais e Natal – alimenta …
Uma eterna paixão por propaganda e, principalmente, por publicidade veiculada em datas comemorativas - Dia da Criança, Namorados, Mães, Pais e Natal - alimenta a minha memória e instala uma saudade de natais ados. Não só a infantil que esperava a chegada do Papai Noel ou a da criança, ansiosa para abrir os pacotes repousados embaixo da árvore de Natal. Nos últimos anos, não sei se obra do envelhecimento, tem me acompanhado nas festas de final de ano uma nostalgia. A saudade de Natais, iluminados com família grande, ceia farta, mesa enfeitada, músicas e ingenuidade pueril remexem na minha lembrança.
Esta saudade é expressa também na memória que insiste em cantar os jingles de propagandas de Natais ados. Lembro, quase perfeitamente (porque sou ível de erros), de uma propaganda do Banco Bamerindus, creio que, do final da década de 70. O cenário era uma moça com vestido branco que carregava um bebê lindo nos braços, caminhando num jardim imenso. No fundo, a música: "o menino chega e por amor, vai renascer, traz nas mãos uma esperança e sorri, pois é Natal, e no mundo inteiro a mesma canção de amor e paz, que se faz tão doce quanto o amanhecer?"
Simplesmente maravilhosa a propaganda. Às vezes, ficava horas e horas sentada na frente da televisão esperando que a peça publicitária fosse veiculada. E queria decorar a música porque era muito linda, falava de um sentimento de Natal que ava longe do viés consumista. Sensação igual me transmitia a propaganda do Banco Nacional, no final dos anos 80, em que um coral de crianças cantava a música: "quero ver você não chorar, não olhar para trás, nem se arrepender do que faz?". E, encerrando a mensagem, uma das crianças, um menino loiro de olhos afetuosos, dizia: "prá você".
Toda vez que escutava um destes jingles natalinos, parecia que tinha sido invadida pelo verdadeiro espírito de Natal, que pode sim ser de reavaliação, de reaproximação, de reencontro, de amor e perdão, independentemente da religião a que se pertence. Porque, como ensinava a música do Banco Nacional, "o presente mais bonito é viver, é querer mais, hoje a festa mais bonita é sorrir, pois é Natal".
Depois, não sei o motivo exato, os bancos deixaram de anunciar tanto, e as propagandas natalinas foram sumindo, esvaindo-se, na mesma proporção que as famílias reprogramaram seus planejamentos e ficaram menores; que as festas deixaram de ser um momento de confraternização e aram a ter um caráter de cobrança e comparação; que a ingenuidade transformou-se em retrato cruel da realidade. Hoje, são poucas as empresas que ainda mostram preocupação em fixar seu nome com uma propaganda de Natal.
Uma das últimas que me recordo é a do Zaffari/Bourbon, da menina que aguarda, ansiosa e carinhosa, o nascimento de seu irmãozinho, embalada pela voz sonora da Adriana Calcanhoto cantando: "Piu-Piu sem frajola, sou eu assim sem você?".
Será que a globalização, a era digital, os dogmas, blogs, sites ou toda uma parafernália pós-moderna enterraram o espírito dos Natais ados? Ou não é mais necessário fazer propaganda porque o povo compra mesmo? Ou não adianta lembrar sentimentos? Ou jamais teremos novamente tanta ternura?