O pote de ouro
Clássicos e medalhões são os filmes épicos, com uma produção fantástica, estrelas e astros consagrados e enredos que em geral trazem sagas de heróis …
Clássicos e medalhões são os filmes épicos, com uma produção fantástica, estrelas e astros consagrados e enredos que em geral trazem sagas de heróis e heroínas. Do tipo E o Vento Levou ou o próprio Indiana Jones, na sua primeira fase.
Não estamos falando de um filme cult, de baixo orçamento, com atores e atrizes desconhecidas, que misturam no enredo a moral realista e nada ideal, nem tão politicamente correta. Fu Lana buscava a diversão e o entretenimento servil quando resolveu assistir ao glamuroso Australia.
Plena de aventuras e magia, a história divide o elenco entre os bons e os maus. Assim como Disney poderia fazê-lo, trata a questão étnica de uma forma poética e absolutamente leve. Os malvados são mesmo malvados, fazem olhares de soslaio (tipo um olho mais fechado do que o outro, assim de lado, de preferência com um palito nos dentes). Os bonzinhos são engraçados. A mocinha, num primeiro momento, é espevitada, frágil e coquete, sendo que, logo depois, torna-se uma mulher de fibra, repentinamente acostumada às lides rupestres. Os homens são rudes, grossos e sujos. Os de papel mediano sofrem mudanças de comportamento, ora torcem para o lado do bem, ora para o outro.
Na telona, romance e muita coragem em uma terra exótica tecem a fórmula exata da jornada do escritor. Os ícones estão todos ali, em suas funções clássicas. O filme traz a sensação de ter sido forjado no tempo do cinematógrafo. Porém, não abre mão de efeitos visuais e apresenta vertiginosas imagens de uma terra virgem. Se você sofre de labirintite, não assista.
A dimensão do território, os desenhos animados explicativos da geografia e a vinculação com os fatos da história real dão aquele sabor de obra completa: a casa grande que vai mudando conforme as estações do tempo e os ânimos da heroína; a criadagem muda, fiel e carinhosa; as ameaças representadas pelos homens da lei; a concorrência econômica de um empresário sem escrúpulos; o traidor e malévolo personagem que recusa-se a morrer; os aborígenes e suas relações com a natureza em diálogos incompreensíveis para o homem branco; e, por fim, mas não menos importante, o casal romântico, com seus vai-e-vens cômicos, calientes, ruidosos e raivosos que incluem aquele pequeno afastamento antes de uma união em um granfinale repleto de lágrimas e esperanças de uma vida próspera e que dure para sempre.
Fu Lana imaginava se ainda era possível fazer cinema assim. E se fosse possível, ao fazê-lo, agradar às pessoas do século XXI. Devido ao uso e abuso de arquétipos, que acompanham a forja do homem desde o início dos tempos, é viável e concluso o trabalho que resulta em um clássico tão moderno e plasticamente impecável.
É claro que o tempo a e os atores não ficam mais velhos (e a gente nem percebe). A heroína é esquelética, quase anoréxica, mas o olhar, a boca de desejo e fome, fazem com que imaginemos uma mulher desejável. O mocinho, no início sujo de lama, podre, brigando nos bares, fica cada vez mais limpo e parece mesmo um capataz que vai se civilizando.
A trilha, composta com forte base no Mágico de Oz, não acontece por acaso. A mesma plateia hipnotizada pela magia dos sapatos vermelhos estava ali, embalada pelos olhos de um pequeno mestiço de nome Nullah.
A ênfase no desafio, na mudança de comportamento dos personagens através do desenrolar da história, a conquista de uma vida ideal depois de enfrentar os malvados e a guerra, são a recompensa de todos, depois de assistirem ao filme. Saímos achando que o Nirvana fica logo na esquina, e que basta que derrubemos um dragão de cada vez, para alcançarmos o direito ao arcoíris. Uma fórmula sem erros, nem surpresas.