O papel relevante da Xuxa sessentona
Por Flávio Dutra

Quem diria, a Xuxa está comemorando 60 anos! A propósito das homenagens que vem recebendo, assisti a uma entrevista dela em que falou de tudo, menos de um episódio até hoje, no mínimo, controverso. Trata-se do filme 'Amor Estranho Amor', quando a ex-rainha dos baixinhos, interpretando a prostituta Tamara, aparece na plenitude dos seus 18 aninhos em cena de sexo com um garoto que teria 12 anos.
O filme é de 1982 e fico imaginando o Marcelo Ribeiro - o nome do então menino é esse - agora com 56 anos, garganteando para os parças que "transou" com a Xuxa, equiparando-se a Pelé, Ayrton Senna e Luciano Szafir, e sonho de muitos grandinhos desde que a moça apresentava seu programa na Rede Manchete com um figurino análogo aos das rainhas de bateria. Acho que o Marcelo deve ter faturado mais prestígio e provocado muita inveja entre os amigos e amigas quando era adolescente e sua atuação no filme foi publicizada. Depois de anos de proibição, 'Amor Estranho Amor', dirigido por Walter Hugo Khouri, foi liberado para exibição e apresentado no Canal Brasil em 2021.
Pela mesma época em que o filme foi exibido nos cinemas, deparei-me com Xuxa fantasiada de libélula desnuda no baile Vermelho e Branco, evento pré-carnavalesco do Internacional, realizado em um efervescente Gigantinho. A promoção era dos saudosos Jorge Salim e do Fernando Vieira, este velho amigo dos tempos de peladas, no caso de futebol, nos campos do Ararigbóia e da Tamandaré, no bairro Petrópolis. Pois estava eu a bebericar uma cerveja nas arquibancadas do ginásio, enquanto o povaréu saracoteava na pista, e eis que a uns cinco metros de distância vi aquele corpão branquelo adentrando no bailareco e embasbacando os circunstantes, entre os quais este que vos fala. Que tempos aqueles, os de antigamente e os dos pré-carnavalescos.
Sei lá se não foi a visão xuxiana, por me desconcentrar ao volante, a responsável pela capotagem do Fusca, que dirigia a caminho de casa, depois do fuzuê carnavalesco. Menos mal que só vitimou o carro e as mamonas sobre as quais caiu, numa curva da Estrada da Serraria. Mas essa é outra história
Hoje, a sessentona Xuxa talvez não fosse convidada nem para o baile do Retiro dos Artistas e certamente seria cancelada se repetisse a cena do filme com um menor. Sobre a atuação dela haveria grandes polêmicas nas redes sociais. Os contra ou vice versa seriam taxados de fascistas. Os oportunistas de sempre cobrariam providências do MP, invocariam o ECA, haveria manifestos da OAB, ABI, CNBB e de outras siglas ativistas. A Globo faria uma defesa discreta da sua ex-estrela e a Record, em nome de Deus, condenaria com força a atuação da loira pela imoralidade. Os defensores justificariam que 'Amor Estranho Amor' não era um pornô, mas um filme de arte, assinado por um dos mais conceituados diretores brasileiros. É o que a agora sexagenária tem afirmado, dizendo-se arrependida de ter pedido a censura do filme, que lhe valeu, inclusive, uma premiação como atriz revelação. Então, chega de balela e eufemismos, porque a designação correta para sexo com menores é pedofilia, no cinema ou na vida real.
Xuxa, nós sabemos o que você fez no ado, assim como devemos reconhecer o relevante papel que desempenhou na iniciação sexual da garotada, anos atrás, e não é o caso do pré-adolescente do filme, mas do modo artesanal, via revista Playboy, se estou me fazendo entender. Em tempo: Xuxa ainda dá um caldo, mas que fique com a turma dela.