O Pacto e as suas circunstâncias
Faz alguns anos que o Rio Grande do Sul vem andando de lado. A folha de pagamento dos três poderes consome grande parte da …
Faz alguns anos que o Rio Grande do Sul vem andando de lado. A folha de pagamento dos três poderes consome grande parte da receitas, ficando o saldo quase integralmente destinado ao serviço da dívida.
Exceção feita ao governo Britto, que efetivamente adotou uma agenda para enfrentar a crise sistêmica, os demais governadores deixaram-se tornar gestores da dívida e da folha de pagamento, sendo que no caso desta última com uma lógica que Stanislaw Ponte Preta chamaria de "não deixar a onça com sede, nem o cabrito morrer de fome", ou seja, pouco fazendo para rever as disparidades salariais há muito vigentes.
Agora, surge uma nova iniciativa: o "Pacto pelo Rio Grande". Gerado pelo Poder Legislativo gaúcho, trata-se de uma tentativa de tirar o Rio Grande do Sul da grave situação na qual se encontra. Visa a identificar os pontos nos quais há oportunidades de redução de despesas e de incremento de receitas.
Onde parece que o Pacto corre sério risco de fracassar é na ponta das despesas. Neste caso, todos são favoráveis a mexer no queijo dos outros. Explicar às corporações, que representam os detentores de altos salários e de privilégios adquiridos ao longo do tempo, que é necessário estabelecer um novo paradigma é tão complexo quanto sensibilizar o peru acerca do sentido espiritual do Natal.
Além disso, outra oportunidade de redução de despesas é através da diminuição dos valores destinados aos cargos em comissão, os chamados cecês, vagas destinadas a pessoas indicadas pelos partidos do governo de plantão. Aí, mais uma vez, há perspectiva de ime. Estas posições parecem estar firmemente estabelecidas como paradigma de exercício de poder no Brasil.
Desta forma, o que em tese parece um ótimo encaminhamento para a solução tende a naufragar. A sensibilização é muito difícil.
No entanto, não podemos esquecer que, não faz muito, províncias Argentinas pagaram salários a partir de determinado patamar através de bônus, que podiam ser utilizados no comércio local, que, por sua vez, utilizava-os para quitar impostos estaduais.
Seria este o elemento sensibilizador? Patologias graves implicam tratamento penoso. O Rio Grande já sabe disso? É importantíssimo que se mobilize a opinião pública neste processo. É preciso, definitivamente, agendar o tema.