O não
Como atuo fazendo prospecção, trato com os mais variados tipos de pessoas e de processos. Há aqueles que são amáveis e, mesmo não tendo …
Como atuo fazendo prospecção, trato com os mais variados tipos de pessoas e de processos. Há aqueles que são amáveis e, mesmo não tendo tanto tempo disponível (quem tem tempo hoje em dia?), conseguem imprimir à reunião uma atmosfera agradável, sendo atentos e objetivos ao mesmo tempo.
Há aqueles que agendam um horário, mas na hora aprazada designam cinco minutos para me ouvir. O que, é óbvio, se transforma numa narração de páreo de jockey. Na realidade, quando eu consigo detectar que a pessoa vai me destinar cinco minutos para uma reunião, prefiro nem fazê-la. Pois fazendo, a pessoa finge que me atende, eu finjo que apresento os projetos e, ao final, teremos nosso tempo gasto de maneira inútil.
Há ainda aqueles que descartam o projeto de cara. Não vi, não conheço, mas não gostei. Estes são difíceis, demandam um maior investimento de tempo e eloquência para sensibilizá-los. Mas nem sempre isto é possível.
Mas não quero fazer uma relação dos tipos de pessoas com as quais me deparo no dia-a-dia. O que quero é destacar as formas que as pessoas encontram para dizer não a um projeto. Porque, basta perguntar a qualquer pessoa que atua prospectando, o não faz parte da rotina. A taxa de sim, ainda mais em tempos de crise, é reduzidíssima. Então, digamos que o não é um companheiro de rotina. A questão não está em receber o não, a negativa a algum projeto, mas a forma com que as pessoas o fazem.
Dias atrás, oferecendo um projeto a uma grande empresa, recebi uma negativa. Conhecia uma pessoa, com a qual eu pensava em me reunir, e esta pessoa solicitou a participação de outra, por email, em que eu estava copiado. Então, esta segunda pessoa descartou de cara a reunião, indicando que eu deveria enviar o projeto ou por email ou por impresso, para análise. Ora, quem vive disto sabe que é praticamente impossível um projeto obter êxito desta forma. Contrapus então, também por email para esta segunda pessoa que eu não conhecia, que o projeto perdia muitíssimo em argumentação sendo simplesmente enviado. Por fim, esta pessoa me respondeu, sem sequer colocar meu nome ao final da mensagem:
- Resultados menores menos incentivos, principalmente estes não teremos. Manda em papel que deixaremos no Banco de Projetos.
E assim mesmo terminou a mensagem, sem sequer se despedir. Ora, não estou negando naturalmente o direito à empresa de não querer participar do projeto. Falo é que esta pessoa tratou tanto o assunto quanto a mim, de forma desimportante. Compreendo que não sou o presidente da República. Porém, não falo nem do tratamento que acho adequado. Falo da imagem institucional da empresa que, sob meus olhos, ficou seriamente afetada. Como uma pessoa que detém um cargo importante numa grande empresa trata a imagem da mesma desta forma? O não faz parte do jogo. Mas a forma de dar a negativa é que me surpreendeu. E estamos falando de uma grande empresa, com atuação internacional. Assim sendo, gostaria de destacar que as empresas lutam tanto para se projetar e conquistar mercados, trabalham sua imagem institucional com ações de comunicação junto aos públicos interno e externo, agência de endomarketing, agência de propaganda. Mas toda a imagem construída pela empresa com tanta dificuldade e esforço pode ser seriamente afetada com condutas equivocadas como a que eu vivenciei. Um furo no casco do navio da imagem desta empresa, provocado por um marujo despreparado.