O mundo maravilhoso das redes sociais
Por Márcia Martins

Não existem dias ruins para os adeptos assíduos das redes sociais. Nem noites mal dormidas. Ninguém nunca precisa apelar para os medicamentos chamados ansiolíticos. Basta encostar a cabeça no travesseiro que o sono relaxante chega naquele instante (coitado dos carneirinhos que perderam o trabalho). Os empregos assumem papéis edificantes e nenhuma chefia é malévola. Amores despedaçados estão, definitivamente, fora de cogitação em se tratando de internet. Amizades são sempre saudadas, eternas e duradouras. E a roupa suja deve ser lavada entre quatro paredes (se é que me entendem!).
Tudo é descrito como um lindo conto de fadas que nem mesmo Walt Disney teria imaginação suficiente para supor. Como é maravilhoso e encantado o mundo das redes sociais. Nelas, não há espaço para raiva, ódio, desencanto, rancor e qualquer tipo de mesquinharia ou sentimento negativo. Lá, desfilam as emoções nobres, prosperam somente as boas relações, aparecem só os momentos de felicidade e são cultivadas as sementes do amor, da fraternidade, da gentileza e do bem viver.
Quanta falsidade! Quanta hipocrisia! Quanta representação de que a vida é um cenário inesgotável de acertos! Quanto teatro de péssima categoria! Parece que as pessoas ao entrarem nas redes sociais assumem o compromisso assinado em cartório virtual de não se mostrarem na totalidade. Porque vamos combinar né? Nada é 100% perfeito (até porque não somos 100% perfeitos). Nada é só "hehehe" e "ahahahaha", gratidão e merecimento puro. E ninguém é tão generoso, comivo e clemente que não sinta um pouco de raiva na sua rotina.
Talvez com o confinamento imposto pela pandemia da Covid-19, agora com um certo relaxamento de minha parte, tenha ado a observar com maior atenção o comportamento das pessoas nas redes sociais. E me assustou um pouco ver como a felicidade impera, que todos são bondosos, que ex-companheiros e as ex-companheiras são sinônimos de meiguice e, simplesmente impressionante, as pessoas usam tanto filtro e recursos nas fotos para rejuvenescer que algumas parecem ainda nem terem nascido.
Das minhas redes sociais, o facebook é o mais antigo (não vou falar no Orkut porque aí seria muita antiguidade). Mais tarde, entrei no twitter. E mais recente, uns quatro anos (creio) abri uma conta no instagram. Não sei se estou omitindo alguma (mas tudo bem porque eu erro sim). Em todas elas eu escrevo muita bobagem, narro tristezas, reclamo de algumas situações desagradáveis, choro de saudades dos que se partiram e publico fotos como eu realmente sou. E, como sou totalmente louca e desatinada, abuso dos retratos das poses do neto canino Quincas Fernando.
Até gostaria de só ressaltar situações de magia e contentamento, compartilhar com os que me seguem gargalhadas e conselhos otimistas, distribuir carinhos e repartir felicidade. Às vezes, me permito e preciso desopilar um pouco. Mas, logo mergulho novamente na realidade da rotina das pessoas normais. Não as que só vivem para o mundo maravilhoso das redes sociais.