O Marketing e o Papa
O Financial Times, numa exceção entre as grandes publicações, dedicou duas páginas às empresas que aproveitaram a oportunidade da visita do papa Bento 16 …
O Financial Times, numa exceção entre as grandes publicações, dedicou duas páginas às empresas que aproveitaram a oportunidade da visita do papa Bento 16 ao Brasil para realizarem bons negócios .Centrou principalmente no setor de imagens. "É o marketing do Papa", diz padre Silano Vasquez, catedrático em Teologia na Universidade de São Paulo. Ele assegura que os negócios brasileiros não são inusitados, porém muito mais amplos e com maior abrangência. E, durante a visita, a demanda supera a oferta. Ainda faltava um dia para Bento 16 declarar o frei brasileiro Antonio de Sant"Anna Galvão como o mais recente santo da Igreja Católica, e a livraria Loyola já tinha vendido todo o seu estoque de estatuetas do padre franciscano do século 18, famoso por suas pílulas milagrosas.
"Vendemos tudo"", exultou Antonio de Castro em sua loja no centro de São Paulo. Disse ao Financial: "As pessoas parecem estar muito mais espiritualizadas esses dias. Um homem veio de Blumenau e comprou 150 estátuas". A fábrica de Tristão de Andrade, no centro de Diadema, está fazendo novas imagens de resina o mais rápido possível, mas não dá conta da demanda.
Catolicismo ressurge
Depois de anos de declínio constante, com a fuga de seus fiéis para as seitas evangélicas, o número de católicos aumentou inesperadamente em 4 milhões nos três primeiros anos desta década, segundo a pesquisa mais recente da Fundação Getúlio Vargas.
A explosão ajuda a fabricação artesanal, e uma fábrica no bairro da Aclimação está produzindo um presépio completo, com 80 anjos, que devem ser encomendados a artesãos experientes. O aumento da religiosidade católica foi acompanhado de uma ampliação de demanda por itens que vão desde brincos e medalhões a cartões de prece. A elevação do número de católicos deve-se em boa parte ao Movimento Carismático, que tenta criar um relacionamento mais direto e emocional entre os padres e suas congregações, à semelhança das igrejas evangélicas e pentecostais.
A feroz concorrência chinesa
Abaixo da superfície, entretanto, nem tudo vai bem para o ramo. A competição crescente das importações chinesas, que freqüentemente entram no Brasil ilegalmente, e as pequenas oficinas que operam clandestinamente para evitar o pagamento de impostos, estão tornando a vida difícil para as empresas tradicionais. A competição chinesa é feroz. Os mercadores chineses estão vendendo uma gama completa de imagens populares, principalmente de resina, pela metade do preço que os produtores brasileiros podem oferecer.
"Isto pode ser fabricado por US$ 0,50 e vendido aqui por US$ 1,00, e não podemos fazer por menos de US$
As conseqüências
Frente a esta concorrência feroz, as empresas maiores estão gradualmente reduzindo seus custos, baixando preços, e melhorando a qualidade de seus itens, disse Tristão para o Financial. Ele possui um mercado cativo através de lojas de sua propriedade. Os tradicionalistas limitaram-se a abolir a confecção de pequenas estátuas. Nem o marketing conseqüente à visita de Bento 16 conseguiu reanimar estas empresas. As lojas não estão interessadas na origem dos produtos, se chineses ou brasileiros. Diz Wladimir Jedáh, um médio produtor, forçado a cortar 20 dos seus 45 empregados: "Acho que eles, os chineses, já controlam mais de 98% do mercado de Aparecida", referindo-se ao Santuário da padroeira do Brasil.