O líder continua nu
Por José Antonio Vieira da Cunha

Jair Bolsonaro tem uma legião de fãs, e eles merecem ser respeitados. Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República porque mais da metade dos eleitores votaram nele, e precisamos respeitar esta vontade coletiva. Mas há limite para tudo. A despeito destas qualidades e fortalezas, Jair Bolsonaro não tem o direito de ser desrespeitoso para com as instituições, irascível e mal-educado com os jornalistas que lhe fazem perguntas nem insensível para com as centenas de brasileiros que morrem diariamente abatidos pela Covid-19. E é uma insensibilidade que se repete desde o surgimento deste coronavírus, quando defendeu a tal imunidade de rebanho, mostrando-se outra vez insensível e desumano, já que tal procedimento implica em deixar morrer cidadãos ou deixar que, infectados e hospitalizados, os sobreviventes tenham depois de conviver com as sequelas desta doença miserável.
Não há acertos de Jair Bolsonaro. Posta-se como um ridículo propagandista ao insistir no uso da cloroquina e do tratamento precoce, mesmo que com isso afronte o posicionamento do próprio Ministério da Saúde. Adota uma postura totalmente inadequada ao minimizar e ridicularizar o uso de máscara e a necessidade de se observar o distanciamento social, medidas universalmente aceitas e defendidas pela ciência e a medicina.
Quer dizer, continua enviando sinais trocados à população, o que nos leva a itir a certeza de que está muito mais preocupado com seu emprego do que com a saúde dos brasileiros e da economia do país. É um péssimo gestor da crise e, incapaz e incompetente, faz articulações subterrâneas e malcheirosas para se garantir no poder.
Quando ofende e repete palavrões, explicita o momento de desespero que está vivendo. Prega a desobediência civil, inconformado com decisões do STF. Diz que "decisões absurdas" não devem ser cumpridas, quando o absurdo da situação está em ignorar os limites entre os poderes da Nação. É o anti-presidente por excelência.
Não temos como esquecer o caso que Manaus viveu no início do ano, com pessoas morrendo por um motivo cruel, a falta de ar porque não havia oxigênio disponível na região. Uma tragédia inimaginável, causada em boa parte pelas aglomerações de fim de ano, quando se evidenciou mais uma vez o mau exemplo dado pelo presidente da República, negando a validade daqueles cuidados mínimos indispensáveis.
Pior que até agora segue ironizando os que defendem o isolamento social e o uso de máscaras e recomendando tratamento com medicamentos que comprovadamente não dão resultado nenhum. É um caos absoluto, os fatos são acachapantes, e por isso não surpreende nem um pouco que cresça o movimento pró-impeachment e, no sentimento de mais da metade da população, a certeza de que Jair Bolsonaro não tem competência para comandar o país.
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Tem uma frase do Mia Couto que cai como uma luva nestes tempos: "A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado". Não deixa de ser uma injeção de otimismo neste momento em que há tanta tristeza e decepções. É ruim demais, todo dia ser bombardeado com notícias de dores e tragédias. Menos mal que o quadro indica estar se suavizando aos poucos com o avanço da vacinação - em relação à qual este Jair Bolsonaro também segue dando o pior exemplo ao se recusar a ser vacinado, em mais uma atitude tresloucada.
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"Feito em Casa", ou "Homemade" no original, é uma colagem de curtas-metragens feitas por pessoas em vários lugares do mundo mostrando como sobrevivem nestes tempos de pandemia. Tem alguns curtas ótimos, todos filmados com celulares, e o melhor dele é o único em animação. Do italiano Paolo Sorrentino, mostra o Papa recebendo a rainha Elizabeth que, por causa da pandemia, não pode voltar a Londres e se torna hóspede do Vaticano. Delicado e engraçado.