O lado burro e obscuro da internet
Eu não digo não às mudanças, o homem absurdo é o homem que não muda, eu digo não ao oportunismo rasteiro surgido do caos …
Eu não digo não às mudanças, o homem absurdo é o homem que não muda, eu digo não ao oportunismo rasteiro surgido do caos transitório entre uma onda da História e a próxima, entre o broadcast clássico e a internet, por exemplo. Entre a fragmentação (transformação) da primeira e a dissiminação viral nos mercados de nicho da segunda, em que afluiram os milhões de adolescentes, não que necessariamente sejam todos perversos e oportunistas, no entanto, a "desumanização" deste multifacetado imaginário coletivo é percebida de forma solar.
Quando estava com este artigo pronto, por pura coincidência (juro) a ZH de 9/12/08 abriu matéria de página dupla sobre o que se pode chamar de cyberselvageria. Todos leram, portanto não vale pena reportar os fatos publicados. Contudo, o fenômeno bullying está entre nós não é de hoje: é o cyberbullying, a mais covarde, humilhante, danosa, imoral, sombria, destrutiva e perversa ação que alguém pode infringir a um semelhante, sem consequências penais.
A mais bonita, o mais rico, o mais esperto, a mais popular, todas as formas midiáticas incentivam este "Top of Mind" individual. Adolescentes são preparados na incubadora do narcisismo predatório e desde cedo se tornam competitivos para impor um modelo de vencedor, a qualquer preço, meninos e meninas. Cláudia Laitano, a quem iro muito, em sua coluna de 6 de dezembro em ZH, nos fala sobre o termo inglês "overshare", sem tradução específica, mas que dá conta sobre o fenômeno da superexposição na internet. Os 15 segundos de fama deram lugar à exposição crônica do seja lá o que for, o vale tudo, claro, além do grão revolucionário - seja qual for ele -, que, como toda a sub-cultura, emerge da quantidade experimental para se impor como novas e duradouras linguagens de comunicação e interatividade.
Enquanto não emergem de forma mais aprimorada, nos damos conta do quanto de entulho sexual (o paraíso dos pedófilos, lembram?) e da exuberância com que os garotos deformados pela vaidade distorcida transitam pela capilaridade de altíssima velocidade e abrangência, além de outras expressões retardadas fartamente veiculadas no You Tube, no Orkut, nos domínios do tudo sobre tudo.
Claro que há muito de entretenimento, de diversão, só não gosto muito da pose de seriedade de quem fala nisso como se fosse a quinta essência de uma linguagem sofisticada, hermética, inível para que tem mais 40 anos. Não vejo tanta modernidade na intenção e no gesto de gosto duvidoso, na motivação de quem transita pelo viés do exibicionismo que vai do nada a lugar nenhum, com a mesma desenvoltura dos macacos de bunda vermelha.
Quando os conteúdos virais não são malignos, observa-se o modelo para, cada vez mais, aprofundar-se neste vasto território de ninguém e de todos, em que fervilham os animês, os videogames e os subterrâneos do mangás, tudo a serviço do lixo japonês (filmes e estórias em quadrinhos) que fez a cabeça da criançada. Quanto a isso, deixe que se divirtam, e não duvido que muitos irão ganhar muito dinheiro com a tecnologia virtual - embora seja inevitável comparar as grande fortunas surgidas das tecnologias on line, dos eBays e outras mídias virtuais -, com a louca corrida dos espermatozóides em direção ao óvulo: milhões desaparecem pelo caminho, apenas um chega a cada tentativa de fecundação de um Google.
Não demorou muito para surgir o "Crash for cash" (lixo por dinheiro) e todo o tipo de banners burros em que o anunciante estampa a sua mensagem de propaganda em cima do conteúdo de imprensa dos sites, sem dar chance de escape ao usuário. Na impossibilidade de fechar, só resta o ódio silencioso pelas marcas que se valem desta estratégia "goela abaixo". Sim, sou publicitário também, mas isso não significa que tenha inteligência robótica, aquela que, dotada de alta tecnologia, faz tudo com precisão. Só não "sabe" o que está fazendo.