O inverno contra-ataca
Fu Lana não está preocupada com chá e brioches. Se o mundo mudou, deveriam mudar as pessoas que, nas internas, ainda se referem maldosamente …
Fu Lana não está preocupada com chá e brioches. Se o mundo mudou, deveriam mudar as pessoas que, nas internas, ainda se referem maldosamente a "crioulos" e "negrões". No caso de Obama, dizem: aquele pretinho que nos sacaneou. Fu Lana não está ocupada com a tristeza do verão tedioso da cidade, mas eletrizada com a overdose de adrenalina que vem do inverno do hemisfério norte.
Imagina os texanos recebendo seu cowboy como a um membro da comunidade de Mississipi em Chamas:
- Don"t worry, Jack, se você quiser, acabamos com eles.
- Not now, rapazes. Vamos esperar que eles pisem na bola. E o farão. Agora ou na saída.
A verdadeira ficção é aquela que constrói com base no verídico. Especialmente aquelas obras que nos devolvem a capacidade de indignação. São trabalhos que nos ofendem, nos agridem e nos movem em direção a acreditar que é fundamental continuar lutando. Um desses trabalhos, no cinema, é A troca. Longe de ser apenas fonte de chororô, como dizem alguns, trata-se de um registro de um dos resgates da cidadania. Quando tudo parece dominado (poder político, instituições, imprensa), surge a gota d"água que faz transbordar o copo, quando o sofrimento já foi tanto e nada mais pode refrear a mudança. Esse enredo é recorrente na história da cultura.
No filme de Clint Eastwood, temos, além da troca de uma polícia corrupta, a troca de paradigmas. Trocamos a impotência diante do abuso do poder pela reação e revolta em nome da mudança. Pelo trabalho dos atores, da direção, da reconstrução de época, em refinado roteiro, trata-se de um filme envolvente, sério, centrado, que documenta um o à frente no caminho de construção da solidarieadade e da justiça.
Essa semana, presenciamos a troca de poder em uma das maiores potências mundiais. Uma troca histórica, contra o silencioso murmurar e muchochos daqueles que desejam a segregação e defendem a usura e o privilégio. Bom ficarmos atentos. A vida daquele homem de cor pode significar a distensão que faltava. No entanto, qualquer ameaça àquela família afro-americana significará a gota d"água em uma hecatombe social.