O grande irmão africano

A internet pode tornar-se o único veículo de difusão dos filmes africanos. A operadora sul-africana Mnet está comprando de todos os cineastas do continente …

A internet pode tornar-se o único veículo de difusão dos filmes africanos. A operadora sul-africana Mnet está comprando de todos os cineastas do continente os direitos de exibição e comercialização de seus filmes, comercialização esta que não se sabe exatamente que forma assumirá. Dentro de alguns meses a Mnet será detentora da quase totalidade dos direitos de difusão na Web dos clássicos do cinema africano, e isto por um prazo de pelo menos um quarto de século.


Segundo conta Le Monde, em menos de dois anos este poderoso canal de televisão adquiriu mais de 400 filmes, pelos quais ela possuiu os direitos de exibição na internet no mundo inteiro e, em muitos casos, também os direitos de difusão em salas e na televisão para o continente africano. O projeto tem por nome "African Film Library". A Mnet é o principal canal do conjunto de TVs por oferecidos pela empresa DSTV, que pertence ao grupo Naspers, um gigante dos veículos de comunicação sul-africanos. Isto oferece uma pista para a atual operação do Mnet: vender também por canais a cabo.


Todos procurados


Todos os principais cineastas, ainda conforme Le Monde, foram procurados um após o outro por Mike Deartham, encarregado das compras. A notícia não tardou a espalhar-se pelo pequeno número de realizadores africanos. Mike Deartham não gosta de falar em números mas, segundo várias fontes, a Mnet paga entre US$ 25 mil e US$ 40 mil por filme para adquirir seus direitos por um prazo de 25 anos. Assim o canal teria investido cerca de US$ 5 milhões neste projeto.


"Nós pretendemos adquirir o melhor do cinema africano e conferir uma nova vida a estes filmes", explicou Mike Deartham. "Até agora eles não foram distribuídos e comercializados adequadamente. As salas de cinema não existem mais neste continente, o futuro é pela procura, que pode ser comprado e visionado na internet".


Dormindo em gavetas


"Os meus filmes estavam dormindo em gavetas há anos. Eles vêm se acumulando, nada mais. A proposta da Mnet é a única que existe atualmente, e vale a pena aceitá-la", declarou Pierre Yamégo, uma cineasta burquinabê (etnia africana), autora, entre outros, de "Wendemi" (1993), "Eu e meu branco" (2003) e "Delwende" (2005). Yamégo irá aceitar a proposta da Mnet. "A duração de 25 anos me parece um pouco excessiva, mas eles sabem que nós não temos escolha", acrescentou. "Ao menos não será pior do que a proposta do Canal International, que nos pagava menos de um quarto da atual proposta da Mnet para uma exclusividade por dois anos, e oferecia nossos filmes gratuitamente nas televisões africanas".


Cada um deles negociou separadamente com Mike Deartham e, no início, alguns cederam por um punhado de dólares seus direitos mundiais para todos os es. Mas agora os cineastas vêm se mostrando mais atentos e discutem os contratos detalhadamente. "Jamais, enquanto eu estiver vivo, venderei qualquer coisa para a Mnet. As minhas obras me pertencem e eu quero legá-las a meus filhos", garante o senegalês Moussa Touré.


A reação sa


Aqueles que recusam as propostas da Mnet são em número muito reduzido. No Senegal, a operadora sa Orange quis comprar direitos de difusão através da internet. Chegou tarde, a Mnet já havia ado por ali. Contudo, os realizadores sabem que o projeto da Mnet desperta a irritação de muitos no Ministério Francês de Relações de Relações Exteriores, que é o principal apoio do cinema africano. Financiou dezenas de filmes, em colaboração com outras instituições, e deles possui apenas os direitos não-comerciais, ou seja, que lhe autorizam sua distribuição nas redes dos centros culturais ses, das alianças e dos festivais. Mas ironiza um diplomata: "Temos uma caixa de filmes vencedores em festivais, restaurados e digitalizados, isto custou um fortuna. Esta caixa nunca será vendida, ela será enviada para centros culturais. Estamos oferecendo a cada realizador a matriz digitalizada para que possam alcançar altos preços da Mnet?".

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