O Gordo do Brasil

Por José Antonio Vieira da Cunha

Gestos simples são próprios de grandes seres humanos. Como Jô Soares, figura que tanto iramos desde que se destacou na cena artística, primeiro com seus personagens humorísticos impagáveis, depois por seus talk shows que marcaram a história da televisão brasileira.

O Gordo não se deixou afetar pela fama e riqueza, e disso fui testemunha em um episódio fugaz, porém revelador de sua generosa personalidade. No final dos anos 80, em um fim de tarde em Nova York, o governador Pedro Simon e outras seis pessoas estavam em uma van quando uma limusine, aquelas banheiras ambulantes que a metrópole norte-americana sabe exibir como nenhuma outra, ficou ao lado, uma janela se abriu e dela surgiu o rosto do Jô que, num sorriso imediato e espontâneo, exclamou:

- Governador Simon, o senhor por aqui?

ada a surpresa e os protocolares comentários de saudação, já que é breve a duração do semáforo, o Gordo ainda encontrou tempo para dizer que irava a trajetória do Turco e que queria entrevistá-lo em seu programa. Referia-se ao Jô Soares Onze e Meia, que estava apresentando no SBT, e o fato de ser então o profissional mais bem pago da tevê brasileira não impediu que o Gordo mantivesse sua simpatia exuberante.

Era um artista genial, capaz de transformar um programa de entrevistas em atração imperdível na televisão. Deixou sua marca na tevê, na literatura, na dramaturgia, no cinema, do qual desponta O Xangô de Baker Street.

Não sou crítico de cinema, longe de mim, que prefiro deixar comentários a cargo de amigos competentes como o Luiz Carlos Merten e o Marco Antonio Campos. O primeiro é respeitado crítico de profissão, o segundo se delicia comentando por amor à sétima arte, e cada um a sua maneira traz observações sempre inteligentes e provocadoras. E adoro verificar que partilho as mesmas impressões em quase 100% de suas observações, como agora com o Merten ao comentar Agente Oculto, na Netflix, e com o Marco analisando Elvis.

Agente Oculto é um filme equivocado, que erra a mão no roteiro e em ações inverossímeis de violência. Elvis é um primor, uma verdadeira homenagem ao grande astro da música que marcou gerações e influenciou fortemente o comportamento e a cultura do ocidente da metade do século 20. Por isso, e do alto de meu amadorismo cinematográfico, sentencio: não perca tempo com Agente Oculto, corra para ver Elvis no cinema.

Certamente tanto Merten como Marco apreciaram O Xangô de Baker Street, best seller do Gordo que foi para o cinema com uma bela caracterização de época, ótimas interpretações e produção impecável. Está na hora de rever e aplaudir este outro exemplo de genialidade do inesquecível Jô Soares.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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