O esgoto do mundo

Há alguns meses, durante uma entrevista do Thomaz Wood Jr., articulista da revista Carta Capital, confesso que fiquei um pouco chocada com esta sua …


Há alguns meses, durante uma entrevista do Thomaz Wood Jr., articulista da revista Carta Capital, confesso que fiquei um pouco chocada com esta sua frase: "A web é o grande pinico eletrônico, com todo tipo de dejeto produzido por homens e mulheres." Esta semana, tive chance de comprovar a assertiva.


Como publiquei na coluna de sexta ada, exercendo meus direitos de cidadã no uso da lei brasileira, enviei denúncia ao Ministério da Justiça contra o BBB 8 pelo que considero incentivo ao uso excessivo de bebidas alcoólicas. Poucas horas depois, recebi uma resposta da instituição, o que também já comentei.


O que eu não esperava é que a Folha Online publicasse tanto a denúncia quanto a resposta do Ministério, gerando uma enxurrada de comentários no blog Clínica da Palavra, a grande maioria de teor ofensivo, desprovida de argumentação válida que deletei sem publicar. Mas não ficou por aí. Nos fóruns de discussão e num blog dedicado a avacalhar com o programa global a carga foi igualmente pesada.


É óbvio que não se podem esperar flores quando a imensa maioria opta por ver e achar maravilhoso o programa que, em sua proposta original, tinha muito mais de psicologês do que de sensacionalismo barato. No entanto, a raiva, a agressividade gratuita e a baixeza dos comentários extrapolam qualquer limite da tolerância e serve para mostrar que, de fato, nós, comunicadores, exercendo nosso poder de entrar na vida das pessoas especialmente via televisão, criamos uma geração de vidiotas sem futuro. E sem presente.


Gente que se compraz em ver uma garota completamente alcoolizada baixando as calças diante de uma câmera e urinando no chão não vai fazer nada para melhorar sua realidade e a realidade de seu país.


Pessoas que se escondem atrás de nomes falsos num fórum de discussão para escrever um texto calunioso e difamatório, com o aval do do site que não modera comentários, merecem a força da lei, assim como quem lhes permite fazer isso.


A lição que fica: você pode botar a boca no mundo para defender o que acha certo pensando que está fazendo uma grande coisa, inclusive pelo próximo. Não me arrependo. Só não espere simpatia e apoio, nem mesmo de amigos, parentes e colegas. A grande maioria, no caso, sumiu, se calou, se omitiu.


Há um anestesiamento geral. A torcida dos que mandam você cair fora é imensa, sempre com a intenção de lhe "preservar".


A acomodação tomou conta. Então, a voz que aparece é dos que nada têm a acrescentar a não ser palavrões e xingamentos


Parabéns, então, a Boninho, a Globo e a quem patrocina o Big Brother Brasil: vocês fizeram um trabalho perfeito junto ao público.

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

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