O diferente e o mau gosto

Há um tempo, fazia muito sucesso entre a gurizada e os jovens uma revista chamada Mad. Como o nome dizia, era coisa para doido …

Há um tempo, fazia muito sucesso entre a gurizada e os jovens uma revista chamada Mad. Como o nome dizia, era coisa para doido mesmo. Ela tinha cartunistas de alta qualidade, como Don Martin (ao lado, reprodução de capa da edição brasileira da revista, de setembro de 1980, de autoria de Don Martin), Alfred E. Neuman (reprodução ao lado da de Don Martin), entre muitos outros.


Há momentos felizes nas histórias das revistas e jornais em que, muitas vezes por acaso (em outras, não), se une um grupo de alta qualidade e que faz algo realmente novo. Mad era (não sei se a revista continua sendo publicada, mas certamente seu auge já ou no Brasil) assim. O humor era o do absurdo, com tiradas geniais. Não era época de patrulhamento ideológico e, portanto, o humor se sentia mais livre e era mais criativo. Li coisas no Mad que hoje certamente seriam tratadas como crime. Porém, as coisas que li na revista não me tornaram um imperfeito, um preconceituoso, porque isto nasce com a gente, dentro da nossa casa, na educação (e valores) que os nossos pais nos dão.


Mas voltando ao Mad. Lembrei da revista porque no humor, é difícil encontrarmos coisas novas. O programa Pânico, da Rede TV!, me parece algo novo. Porém, em muitos momentos eles ultraam a tênue linha entre ser engraçado, atrevido e ser mal educado e incoveniente. É preciso muita manha e bom senso (item em falta nos últimos tempos, na maior parte das pessoas) para não ultraar esta linha.


Os "Cassetas" (integrantes do Casseta & Planeta, da TV Globo) foram convidados para atuarem na Globo por terem uma revista (antes um jornal), o Planeta Diário, de grande repercussão nos anos 70/80. Igualmente fizeram algo criativo e novo. Um humor escrachado, debochado e que não transpunha a fronteira do mau gosto. Lembro de uma das camisetas que eles vendiam, com código de barras e embaixo, em letras bem miúdas: "Todo viado é míope". Ou outra, que dizia "Vá ao Teatro? mas não me convide". Já pensaram nisto hoje? Iam descer o pau. Pura frescura.


O humor pode ser escrachado, beirar até o mau gosto. Mas não pode nunca achar que o mau gosto é humor, como muitos humoristas fazem. Há uma corrente atual que entende ser o mau gosto premissa para humor. Mas humor (humor de verdade) tem que ser inteligente, refinado e sutil. Como aprendi com meu irmão sobre solos de bateria (meu irmão é músico profissional, baterista). Não precisam ser uma bateção alucinada em tudo. Podem ser sutis, desde que se saiba aonde e quando bater. Assim como devem fazer os humoristas.


Portanto, fazer humor inconveniente (como, por exemplo, Otávio Mesquita que, no programa dele, acha muito engraçado acordar as pessoas, asssutando-as às 2h da manhã. Não sei se este despertar é verdadeiro ou planejado, mas de toda forma a idéia é de mau gosto), já não é novidade e, portanto, deve ser abandonado. Mau gosto por mau gosto, deixem isto para Brasília, embora ver aquilo tudo não tenha graça nenhuma.

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