O centro do mundo
Por Vieira da Cunha

Pois andaram criticando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por ter lançado uma nova versão do mapa-múndi, desta vez invertido e com o Brasil no centro e o hemisfério Sul no topo. Lacração ideológica, avançaram uns. O governo agora quer mudar o mundo, ironizaram outros. Repudiamos totalmente, vociferaram parte dos funcionários do Instituto, preocupados porque a credibilidade da instituição poderia ser comprometida.
Santa e brava ignorância, que merece ser implodida. O planeta Terra, este que habitamos, tem um formato praticamente esférico, uma esfera que brilha no universo há 4,5 bilhões de anos, flutuando docemente, ora uma parte está na parte de cima, ora na parte de baixo. E assim segue o mundo, sem que, tecnicamente falando, exista uma parte superior ou uma inferior.
A visão eurocentrista ajuda a entender porque as coisas são como são. As primeiras cabeças que começaram a produzir mapas eram de europeus, que naturalmente colocaram ali seu ponto de vista. Apenas isso, um ponto de vista que, no entanto, assumiu o caráter de dogma. Que situou de forma deliberada em uma posição superior, especialmente a Europa e os Estados Unidos.
Pois então. O mapa novo que o IBGE divulga nada mais faz do que, também naturalmente, destacar os países que perenemente estavam colocados em uma posição inferior. Assim, não só o Brasil, mas ali estão contemplados também os países do Mercosul e nações de língua portuguesa que povoam a África. A ideia, segundo a direção do IBGE, foi estimular a reflexão sobre "como nos vemos neste novo mundo em que as transformações ocorrem mais rapidamente e exigem um protagonismo brasileiro ainda maior".
Ah, e vale anotar que outros países, como Japão e Nova Zelândia, também apresentam mapas em que o país está no centro. Trata-se claramente de um posicionamento político que, no caso, não merece crítica.
O episódio me levou a rebuscar velhas pastas amareladas e de lá extrair a preciosa imagem que acompanha o texto. Este mapa chegou a minhas mãos na sede da Organização dos Estados Americanos, quando estive lá em janeiro de 1990, acompanhando o governador Pedro Simon. Ele era um dos maiores entusiastas da criação do Mercosul, e esteve na OEA defendendo o processo de integração latino-americana.
Veja-se o mapa e a defesa que o acompanha. A legenda ressalta que a imagem se destina a servir para corrigir o desequilíbrio estabelecido a partir de posições completamente arbitrárias, que reforçam uma visão distorcida do planeta, centralizando certos países enquanto marginalizam outros. A verdade verdadeira está estampada ali, os velhos mapas não refletem critérios técnicos e sim escolhas ideológicas e históricas que precisam ser revistas. São apenas convenções seguidas ao longo dos séculos. Portanto, pessoal, não nos acadelemos. Deixemos em paz o mapa do Brasil no centro do mundo.
