O brejo por destino
Por José Antônio Moraes de Oliveira

Há muito tempo, expressões populares descrevem melhor e com mais precisão o melodramático do que o discurso formal. Para os romanos, a vox populi, e em Portugal, ditados vulgares. Quando os gregos introduziram na cidade fortificada de Troia o grande cavalo de madeira, um respeitado conselheiro anunciou que era uma oferenda propiciatória dos deuses e que devia ser conduzida à praça central e festejada com danças e cantos. Foi quando, no meio do povo, um anônimo comentou:
"- Estamos ferrados".
Nos sombrios dias de junho de 1940, quando a Inglaterra ficou sozinha na guerra com a França sendo ocupada pela Alemanha, a voz solitária de Winston Churchill tentava despertar otimistas e negacionistas:
"O hoje que conhecemos não existe mais e o amanhã vai chegar com incertezas e angústias que não imaginamos."
Em algum lugar, no fundo do parlamento, um lorde mais avisado, deve ter dito em soante cockney, sem ser ouvido pelos demais:
"- Vamos todos para o brejo".
O escritor Gilbert Keith Chesterton sabia como retirar simples e convincentes lições de episódios históricos. Dizia que o desastre não acontece por acaso, mas como fruto da insensatez humana. E que o caminho para os conflitos que infelicitam nações e pessoas é pavimentado pela imprevidência - ou pela estupidez. E citando o historiador G. M. Trevelyan:
"A cada 100 anos aumenta a distância entre os feitos impensados dos políticos e o senso comum das pessoas nas ruas".
Este mesmo homem comum é capaz de ler sinais do desgoverno, mas apenas lhe resta murmurar:
" - Isso não vai dar certo...".
Nos anos 20, o mesmo Trevelyan escreveu que países, políticos e magnatas não planejam com consciência o caminho para o desastre, mas o vão pavimentando aos poucos - uma camada de demagogia aqui, outra de descaso com o bem comum, um tanto de corrupção, além da certeza que sairão impunes. O tempo vai ando, os sinais de perigo se repetem, mais e mais evidentes, no entanto, a sociedade dá de ombros, vencida pela pertinácia dos grandes e poderosos. Não por acidente, a historiadora Barbara W. Tuchman nos alertava para a trágica repetição de eventos ao longo da História. Que poderiam ser evitados em tempo, se reis, príncipes e governadores tivessem ouvido o alerta das cassandras:
"- Cuidado, a vaca vai pro brejo...".
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