O Aprendiz da Globo
Fim de semana difícil, com todo o rescaldo da tragédia da terça, a dor de uma amiga querida esperando a chegada do que, saberia …
Fim de semana difícil, com todo o rescaldo da tragédia da terça, a dor de uma amiga querida esperando a chegada do que, saberia depois, não existia mais do irmão para as últimas homenagens e uma tendinite, que praticamente me paralisou o braço direito. Tudo isso me tirou do ar na sexta-feira e não consegui enviar meu texto para o Coletiva. Assim, chego atrasada.
Queria falar sobre a cobertura jornalística das mídias eletrônicas sobre o acidente, o quanto de falhas se registraram e me deixaram indignada e, ao mesmo tempo, até penalizada com a situação dos profissionais sem preparo enviados para a boca do fogo em Congonhas. Entende-se: as equipes todas voltadas para os noticiários de final de noite, os repórteres "de ponta" talvez nas ilhas de edição e a solução foi enviar menos experientes para a linha de frente. O que se viu: muita falta de informação, perplexidade, falta de timming para avaliar a situação e, o que mais me impressionou, a falta de flexibilidade, para dizer o mínimo, da Globo, ao abrir janelas eventuais para o acidente e manter no ar novelas e até humorísticos, enquanto a Bandeirantes tomava conta do noticiário.
Mas, ado o impacto inicial, se espera que as suítes sejam mais abrangentes, completas, informativas ao menos e a rede líder até conseguiu dar a volta por cima, noticiando o defeito técnico na aeronave como provável causa do que ocorreu. Só que, neste domingo, no Fantástico, minha boa impressão se foi ao assistir ao quadro Profissão Repórter. Numa evidente forçação de barra para incluir a "equipe" comandada por Caco Barcellos na cobertura jornalística do desastre, a Globo botou no ar uma edição absolutamente não-convincente do que seria um trabalho de aprendizes guiados pela mão de um superexperiente comandante.
Chegou a ser constrangedor ver, em determinado momento, a menina que "por acaso" estava por perto do local e tentava chegar mais perto do prédio e do avião em chamas, ser pautada por Caco, num texto ensaiado em que ela dizia " e agora, o que vamos fazer?", e ele respondia, num português correto como roteiro de teatro, que ela deveria ir para o aeroporto de Guarulhos enquanto ele permaneceria no local. Foi uma longa (exageradamente) edição do que não houve - deve haver milhares de imagens mais importantes e inéditas para ir ao ar do que aquela da versão global de O Aprendiz (ou Os Aprendizes) - porque nada acrescentou a não ser o despreparo dos garotos não só para enfrentar o que houve mas também para bancar os profissionais diante das câmeras e do público. Ruim para os aprendizes, ruim para o mestre, expostos a um desnecessário arremedo de reportagem sobre o fazer reportagem. Lamentável, ainda mais em se tratando de um acontecimento traumático.