Nosso tempo
Por Marino Boeira

Em 1930, na cidade de Buenos Aires, José Ingenieros (1877/1925), médico, psicanalista e filósofo, escreveu um livro que serviria para definir o homem que a sociedade burguesa e capitalista desde então tenta impor como modelo para todos nós: O Homem Medíocre.
As classes dominantes se apossaram do conceito e tratam desde então de torná-lo universal. A mais influente das artes, pelo menos até o fim do século ado, o cinema, buscou apresentá-lo como a nossa única opção: o novo herói ou a ser O Homem do Terno Cinzento, título de um filme que Nunnaly Johnson dirigiu em 1956 com Gregory Peck e Fredric March.
Toda a forma de se pensar e agir de forma radical precisa ser banida. O conceito clássico de Marx de que ser radical na política é ir à raiz das coisas, precisa ser esquecido. Política é conciliação de classes. É a concertação de interesses opostos em busca de um hipotético bem comum.
Talvez o último grito de rebeldia contra essa camisa de força que querem impor ao pensamento independente tenha sido o dos jovens anarquistas ses de 1968 que escreveram nos muros de Paris "Seja realista. Peça o impossível"
Em nome de um grande acordo que garanta a sobrevivência do modelo atual de sociedade que nos é imposto, devemos renunciar a qualquer forma de radicalidade.
No ado, os radicais eram os comunistas, ateus e inimigos da família, da pátria e da sociedade. Hoje são os fascistas que dormem e acordam querendo destruir a nossa magnífica sociedade democrática de direito.
Como disse o nosso poeta maior, Drummond ; " Este é tempo de partido, tempo de homens partidos". O perigo vive conosco e precisamos estar sempre alertas : 'É tempo de meio silêncio. De boca gelada e murmúrios. Palavra indireta, avisos na esquina. Tempo de cinco sentidos. Num só, o espião janta conosco".
Aprendemos a nos comportar em público, a respeitar as autoridades, os bons modos e novos valores da sociedade. Por isso o espanto quando alguém rompe esses códigos de conduta.
Nada é mais policiado hoje no Brasil que o tratamento às minorias, sejam elas raciais ou sexuais. Velhos termos e conceitos precisam ser abandonados. Mesmo que na prática nada seja feito contra os preconceitos objetivos de classe, de sexo ou de raça, devemos evitar mais do que tudo certas palavras.
Por isso, o espanto que gerou uma declaração do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro na entrevista que dava a Breno Altmann. Era uma conversa amigável entre os dois, com Breno fazendo todas aquelas perguntas previamente combinadas com Maduro, quando ele começou a criticar os golpistas do seu país. Primeiro falou de Maria Corina de forma até respeitosa. Depois foi dando os nomes dos demais golpistas e não poupou adjetivos: canalhas, fascistas e ... de repente soltou o termo que há muito é proibido aqui no Brasil , PEDERASTAS, assim mesmo em caixa alta. E não contente repetiu a palavra, PEDERASTAS.
Fosse no Brasil, Maduro perderia todo o apoio que possa ter nos nossos grupos identitários.
Maduro pode ter todos os defeitos do mundo, mas certamente não é um "Homem Medíocre".