Nosso amigo Kadão
Por Vieira da Cunha

Kadão, um amigão, se foi, e o que poderia dizer aqui que seus incontáveis amigos já não disseram? Que era o melhor fotojornalista do país, dedicado a ponto de levar a máquina fotográfica como uma extensão de seu ser? Que era um profissional completo, rara confluência de talento tanto na fotografia quanto no texto? Era um criativo contador de histórias (divertia muito, e divertia-se mais ainda, contando como era chata a modelo Piná, que desfilava pela Beija-Flor e cativou o pais como um dos ícones do Carnaval no final dos anos 70 e por isto foi escalado para fotografá-la para uma capa de Veja)? Um amigo generoso, sempre atencioso, que sabia ouvir e replicar com respeito e sabedoria? Um cara sempre ético e leal? Sensível, criterioso, detalhista, curioso por excelência? Um pai amoroso? Que, fotógrafo de origem, surpreendeu meio mundo ao se tornar um dos melhores editores do Almanaque Gaúcho, seção diária na Zero Hora? Quera era um especialista em encantar quem estivesse a seu redor? Que foi um cara generoso até o fim, autorizando a doação de córneas?
Dizem agora que quem conviveu com ele foi um sortudo, concordo e me alinho entre estes afortunados. Uma de suas atividades recentes era participar semanalmente de nosso grupo de conversas online, denominado Nova Coonline, da qual estava afastado ultimamente em função do tratamento para a doença que o levou. Quando criamos a Cooperativa dos Jornalistas, ele estava lá ao nosso lado, participando ativamente do Conselho de Fotógrafos que debatia os assuntos do setor.
Lembrei recentemente em uma destas colunas aqui de uma conversa que o Coojornal promoveu com lideranças da área de fotografia no Rio Grande do Sul, não por caso todas elas associadas à Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. O conselho que reunia os profissionais da fotografia iniciou sob a coordenação de Assis Hofmann, o mais experiente de todos, um vitorioso na profissão, um cara ao mesmo tempo competente, voluntarioso e turrão. Durante uma conversa informal em novembro de 2021, Kadão recordou o levante dos fotógrafos contra Assis, com um abaixo-assinado porque ele estava empenhado em criar uma agência dentro do setor de fotografia da Coojornal. Era uma ideia pronta para frutificar, mas ruídos em sua implantação deixaram alguns integrantes furiosos. Que, descontentes, decidiram se desligar do trabalho na cooperativa, criando sua própria agência. Kadão recordava-se dos menores detalhes desta história toda.
Farão falta sua presença e as histórias que sabia narrar. Obrigado, Ricardo Kadão Chaves, pelo legado que nos deixas.