Nas ondas do rádio
Li no Coletiva a proposta da vereadora Neuza Canabarro para homenagem da Câmara pelos 50 anos da Rádio Guaíba. Justo. Muito justo. Tenho vários …
Li no Coletiva a proposta da vereadora Neuza Canabarro para homenagem da Câmara pelos 50 anos da Rádio Guaíba. Justo. Muito justo. Tenho vários motivos para aplaudir a sugestão. Um deles, o fato de ter me criado ouvindo "A Música da Guaíba", desde menina, em especial depois do almoço, enquanto minha mãe lavava louça e eu enxugava, antes de me atirar aos cadernos para fazer os temas de casa. Bons tempos. Grandes orquestras. Ray Connif em especial. Vozeirões. Também dos locutores. Lembro de Egon Bueno, Mário Mazeron, os dois meus queridos amigos. Mazeron foi mais que amigo, foi meu irmão quando, nos anos 90, resolvi colocar um programa de teatro na Guaíba FM, filhota da AM. Chamava-se "Em Cena, o Teatro no Rádio", e era decorrência natural da minha vivência com o setor, desde os tempos da Folha da Manhã, quando entrei como setorista de teatro. Consegui convencer o dr. Carlos Ribeiro e coloquei o programa no ar. Era às sextas, final de tarde. Depois mudou, até que foi absorvido pelo programa de sábado à noite, que ei também a apresentar. Mazeron fazia locução, com aquela fleuma, a voz de veludo! Me ajudava com sugestões de temas, sempre tinha um elogio. Grande cara! Grande profissional. Por isso, acho que além de homenagear a rádio, deveriam homenagear seus profissionais. Quanta gente fez a Guaíba e ainda a faz. Do técnico ao apresentador, a equipe é de primeira.
Também li, dia desses, a entrevista que o Luiz Carlos Reche deu à revista Press, falando nas mudanças que implementou na Guaíba. Me diverti, porque conheço bem o Reche, ele é esse maluco beleza que ali está mesmo, sem tirar nem pôr. Mas confesso que tenho saudade do tempo em que os comerciais eram lidos, não havia jingles na Guaíba, tudo era texto. Daí a excelência dos locutores, encarregados de transformar palavras lidas em algo semelhante ao que os spots exibiam nas outras emissoras. Rádio é, na verdade, o veículo mais impressionante do mundo. Internet nenhuma vai bater essa capacidade de ser imediata e transparente de uma rádio. Nem a televisão conseguiu.
Quando estava nos inícios de carreira, diziam que a rádio estava com tempo contado, que a televisão iria acabar com ela. Que piadão! Tive uma experiência significativa com o veículo e posso dizer que ele me fascina e ao mesmo tempo me apavora com a responsabilidade que encerra: uma palavra dita no ar, captada por um radinho de pilha no interior do interior de alguma fazenda remota, pode levar à revolução. Ou apaziguar uma guerra. Talvez nem mesmo quem está diante da "latinha" diariamente se dê conta de seu poder e do que proporciona a quem fala. Nas ondas do rádio todo mundo viaja, indiscrimandamente, independente de ter um aparelho modernésimo ou uma peça de museu, movida a válvula, como os rádios que aparecem nos filhos sobre a II Guerra.
Rádio fascina. Merece nossos aplausos. A Guaíba merece ser homenageada, sim, por seu meio século. E seus funcionários devem ser citados nesta homenagem. Um a um, como Fernando Veronezzi. Os que estão e os que já, infelizmente, aram, como meu querido Osmar Meletti que por anos a fio encantou meus dias de adolescente com o seu Discorama.