Não é só o batom vermelho

Por Vieira da Cunha

Pois não é que até o Estadão embarcou na balela de que a cabeleireira Débora só está sendo condenada porque pichou com batom uma estátua da Justiça, com o já histórico, folclórico e deplorável slogan do 'perdeu, mané"? Ao vender a versão de que a cidadã foi condenada a 14 anos de prisão unicamente por ter pichado um bem público com seu batom, veículos da grande imprensa, da média imprensa, da vulgar imprensa e das tóxicas redes sociais distorcem a realidade tentando iludir a opinião pública.

Aos fatos. No depoimento que prestou ao Supremo Tribunal Federal, dona Débora reconheceu que estava participando da invasão e depredação dos edifícios dos poderes em Brasília determinada a dar um golpe de estado. Tinha plena consciência da gravidade dos atos e dos objetivos pretendidos. itiu que, inconformada com a derrota do líder Jair Bolsonaro, tudo o que queria era derrubar o presidente eleito e impedir o pleno funcionamento do STF e do Legislativo.

A cidadã em questão estava entre os acampados em frente ao quartel-general em Brasília e sabia que lá convivia com pessoas armadas, todas defendendo com ardor uma intervenção militar. Logo antes de ser presa, e numa ação típica de quem se ite culpado, apressou-se em apagar registros do próprio celular, procurando ocultar provas de sua participação nos atos.

A relevância é esta. A mãe de dois meninos está detida não por ter pichado com um inocente batom a estátua em frente a um prédio da Justiça. Está na cadeia por ter participado de associação criminosa armada, por tentativa de golpe de estado e abolição violenta do estado democrático de direito - pois não era isso o que pretendia o movimento do qual participava, detonar o processo de eleição presidencial, procurando criar uma situação incontornável com a invasão e depredação das sedes dos poderes da República? Na sequência, derrubar o presidente eleito e chamar os militares para assumir o controle da nação?

A verdade, leitora, leitor, é que não há inocentes naquela turba do 8 de janeiro. Quem, como Débora, estava nos acampamentos, sabia muito bem o que queriam todos os que lá se acantonaram. 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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