Mulheres no mundo da Lua

Um lugar para se estar é o cinema. No cinema, é preciso silêncio. Também no tênis. Ou na igreja. Casa de Areia é uma …

Um lugar para se estar é o cinema. No cinema, é preciso silêncio. Também no tênis. Ou na igreja. Casa de Areia é uma metáfora. Estamos falando da dificuldade das mulheres em conquistar o seu espaço. Um limbo onde se esconderam, do mundo, as mulheres. Na sua casa, com seus badulaques que não servem para nada. A não ser para o prazer. Apagadas da história, a cada geração, apegadas em memórias para não esquecerem de si, estão em um lugar que cada mulher mantém. Uma casa sem homens e sem paredes. Onde o perigo maior é ser soterrada. A tragédia espreita o filme. E elas esperam, esperam. Mexericam em caixas e papéis, tornam-se ativas. Acostumadas a esperar. É um lugar onde as mulheres estão, quando não estão aqui. Dizem que vão pro mundo da Lua.
A inutilidade do mundo da ciência em contraste com o mundo de apenas estar. Que metáfora é essa? Duas mulheres presas em um lugar transitório, temporário. Ora mãe, ora filha. Trocando de papéis. Foi-se o ditador, quando morre o pai. O homem. Surge o mundo da maternidade, o desejo no ritmo das dunas. E o que fazemos nós todos os dias a não ser retirar areia de nossas casas? Todos os dias, nós conquistamos o direito de ter ao menos uma janela livre de areia que sistematicamente insiste em levar o tempo.
O ritmo da duna
Um mundo é um corpo. Há coágulos e sangue e bichos que mordem. Sem insetos, o areal seria o paraíso. É a metáfora da mulher e do nada, vencendo o monstro branco que rosna. O barulho é de inferno. Um sonho lunático. O achado de um português. Na primeira noite, Áurea vê um cometa.
"Não tem volta". Ela ouve o que toda a mulher a a saber na hora do parto. A gravidez não tem volta. Contrariada, a mulher continua a vida e é mãe, mesmo que não queira. As mulheres estão sempre voltando para um lugar que elegem seu. Tentam outras paragens, querem sair de um sonho lunático, mas voltam ao seu lugar e a resistência troca de geração. Uma diz: - Eu não quero ser o que fica. O que morre, que desiste e envelhece. Porém, se dá conta que tem uma filha e vira a mãe, mesmo que não queira. As mulheres são mesmo tal qual a Lua. E os seus anéis são elos com a realidade.
Casa de Areia é uma viagem lunática, um pequeno ensaio sobre a história da mulher. Que se entrega ao amor quando está ameaçada de extinção. Porém,há o sexo e há o amor.
A mulher varre a areia. Mulheres não poderiam estar em um areal sem uma vassoura. Ela cuida do lar. Do seu amor, da sobrevivência. A saída da mulher é o homem. Há carinho na areia. Há desilusões também. Até a adolescência. Também há raios e trovões entre mulheres civilizadas.
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