"Mudar ou morrer"

Woltsburg, a cidade que Hitler implantou para tornar-se a sede de sua Volkswagen, pode protagonizar também a primeira demissão de um executivo de alto …

Woltsburg, a cidade que Hitler implantou para tornar-se a sede de sua Volkswagen, pode protagonizar também a primeira demissão de um executivo de alto escalão na séria crise que enfrenta a indústria automobilística na América e seus braços na Europa. Ferdinand Piech, do conselho superior, recusa-se a demitir 20 mil empregados, que poderiam transformar Woltsbrug apenas em uma lembrança. Esta é a mais séria crise que a indústria americana e es braço europeus estão sofrendo. Cerca de 160 mil empregados já foram demitidos pela GM, Ford, Chrysler, Volkswagen e Renault. E também pelos fabricantes de carros de luxo, como a Daimler -Benz. Executivos de empresas européias temem pelo futuro e iniciaram demissões.


Em 1980, 1991 e 2002, reestruturações já foram feitas, principalmente pelas três grandes - GM, Ford e Chrysler - para adaptar-se à queda da demanda. Estas reformulações duraram apenas alguns anos. Será diferente desta vez? "Será a hora de mudar ou morrer?"


A causa direta das dificuldades de Detroit, onde se situam as grandes indústrias, foi sua aposta em minivans, camionetes e grandes SUVs (adaptação de camionete e trator), com o que esperavam lucrar ainda protegidas pelas tarifas de importação."Eles perderam suas fatias de mercado", diz Jerry York, ex-diretor financeiro da Chrysler. "Agora é mudar ou morrer". Duas ou três falências podem estar a caminho.



A CONQUISTA DOS JAPONESES


As empresas estão operando em situação de crise. A Ford e a GM juntas perderam US$ 7,2 bilhões no último exercício. Mas a atual reestruturação será capaz de deter a avalanche dos carros asiáticos, que já atingiram 17% do mercado europeu e 38% do mercado americano? Wolfgang Bernhard, atual diretor executivo do mercado de massa da Volkswagen, adverte: "Os fabricantes asiáticos estão atacando a Europa pela segunda vez, e de forma muito forte. Se os asiáticos aumentarem suas vendas em 7% ao ano, os fabricantes europeus perderão 2 bilhões de euros até 2 010".


Enquanto a Toyota, a Nissan e a Honda abrem caminho no mercado, com sua fama e reais qualidades, os produtores americanos estão lutando para alinhar sua capacidade de produção e custos com a realidade que os motoristas americanos estão menos interessados em veículos americanos.


Jerry York, hoje representante no Conselho da GM do bilionário Kirk Krekorian, o terceiro maior acionista da empresa, diz: "Eles perderam sua fatia de mercado e, então, periodicamente, têm que ar por uma reestruturação para acertar suas estruturas de custo". E continua: "Enquanto estiverem perdendo mercado, terão que continuar ando por reformas periódicas. A questão para as indústrias automotivas americanas é: conseguirão estabilizar sua fatia de mercado em um ponto em que a empresa é grande o suficiente para patrocinar um legado de custos, como pensões e planos de saúde?".


SINAIS POSITIVOS


Alguns sinais positivos estão aparecendo. A GM melhora a qualidade de seus carros, para torná-los próximos aos japoneses, enquanto a Ford está contratando executivos com experiência na Ásia.  A Ford e a Chrysler também melhoraram a qualidade.  Apesar das grandes não terem a produtividade da indústria japonesa, táticas de fabricação são copiadas da Toyota. Mas as empresas estão contra a parede. Se errarem, podem ser forçadas à falência, e quase todos os bens automotivos e os que patrocinaram reformas anteriores estão em risco. As japonesas instalaram-se em plantas nos EUA para evitar tarifas de importação. Por trás do declínio das americanas estão décadas de euforia e certo relativo desleixo na busca da qualidade.


O valor de mercado combinado da indústria caiu de US$ 137 bilhões para US$  56 bilhões. Um resultado é que hoje a GM, maior fabricante do mundo em veículos produzidos, vale menos que a italiana Fiat, as sas Peugeot e Citroen ou a fabricante de motocicletas Harley-Davidson.

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