Missionário no bordel

Quando se chega ao ponto de ouvir lição de moral de um Roberto Jefferson é porque algo realmente vai mal. Orador talentoso, Jefferson dominou …

Quando se chega ao ponto de ouvir lição de moral de um Roberto Jefferson é porque algo realmente vai mal. Orador talentoso, Jefferson dominou a cena com frases de efeito, metáforas, parábolas, hipérboles, citações e tiradas cômicas. Não soubéssemos de quem se trata e talvez acreditássemos estar diante de um missionário no bordel. Como sabemos, dá-se o devido desconto. Ainda assim, as acusações são graves, ricas em detalhes e personagens, tão elaboradas que dificilmente poderiam ser mera invenção. Ignorá-lo com base em seu currículo seria cômodo, mas não é mais possível. A ausência de provas materiais pode ser decisiva em processos jurídicos, mas às vezes pouco importa na formação da opinião pública. É lama demais para se colocar nas gavetas do esquecimento. O povo exige explicações.



O presidente Lula - nada indica o contrário - é um homem decente cuja imagem navega rumo à sarjeta por obra de assessores antiéticos, companheiros corruptos, aliados ladrões. Estender as Is ao governo Fernando Henrique pode dividir o ônus, mas FH não está hoje no comando do País e de suas verbas. E a insistência em tal expediente tem leituras negativas. Equivale a uma confissão: "Ok, aqui tem roubalheira, mas lá também teve". Pode provocar superlotação no banco dos réus, mas não absolve ninguém. Outro discurso gasto é o que alerta para não transformar a I em palanque. Is são atos políticos, sempre virarão palanque, e para ambos os lados. Não há como evitar. E pensar que o PT costumava propor Is até de festa infantil. Os partidos são todos iguais, mas o PT é o único que dizia que não era. O povo não tinha ilusões em relação ao PP ou ao PL, mas tinha em relação ao PT, por isso elegeu Lula com uma enxurrada de votos.


Brasília virou zona conflagrada. Pode sobrar para todo mundo, ou para ninguém. O tiroteio entre os políticos pode cessar por obra de alianças de ocasião, daquelas que Augusto Nunes definiria como "pacto de morte entre anormais". O povo assiste impotente às baixarias dos políticos como aqueles pais de filhos mimados e burgueses que desacatam autoridades, quebram bares, espancam inocentes ou promovem rachas. Os filhos aprontam, nada podemos fazer, e ainda temos de pagar a conta.


 


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Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.            

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 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

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