Mico no camarote

Fu Lana não é especialista em nada e, quando começa assim, lá vem cacetada. Por que o gaúcho não é autêntico, espontâneo, leve e …

Fu Lana não é especialista em nada e, quando começa assim, lá vem cacetada. Por que o gaúcho não é autêntico, espontâneo, leve e bem-humorado? Dá um trabalhão "se fazer". E não funciona, porque o senso crítico é cruel. Enganar qualquer um por muito ou pouco tempo é impossível. Além do quê, também é uma sacanagem. Pode ser também que não seja nada disso. São os humores. Ou o formato?


Na tevê, por exemplo, você percebe que o sulista trava. Mesmo os profissionais, que deveriam ficar muito à vontade, medem as palavras e, às vezes, ficam preenchendo o tempo ao vivo com monossílabos. É preciso muito bom humor, jogo de cena e empatia para a conquista de um telespectador, que tem dezenas de opções ao alcance dos dedinhos. Enquanto pensa no que vai dizer, a pessoa na frente das câmeras pára, olha para baixo, gagueja e diz "então?", enquanto a os olhos nas fichas-cola, que traz na mão. Algo não vai bem. E o que era variedade vira um programa misto, entre a coluna social, a reportagem, o viver sob os holofotes, ou aquele baba-ovo normal entre nós, da terrinha.


É bom lembrar que, à última crítica de Fu Lana aos ares da pequena tela, se sucedeu um prêmio à vítima. O ator exagerado, esculhambado aqui, na clônica, recebeu louros de melhor ator coadjuvante, pelo mesmo trabalho. Portanto, aos que já estão pensando em responder, roga-se: calma. Não vale a pena.


Ao que interessa: o Camarote. Ai, ai, ai que já está Fu Lana a colocar os pés pelas mãos. Katia Suman, pessoa tão afável, divertida, inteligente e safa, não está exatamente à vontade. Talvez seja o microfone, aquele instrumento enorme nas mãos, incômodo, que atrapalha bastante; talvez seja o frio, desde que muitas vezes o Camarote leva as pessoas para o ar livre; talvez seja apenas o início do programa nesse estranho formato em que foi proposto.


Primeiro: para quem conhece a descolada apresentadora, com seus cabelos crespos e naturais, com seu jeito cult de ser, zen até, vê-la transformada naquela presença de todas as noites em um bate-papo prá lá de Viamão, trocando deixas com o parceiro-repórter-sem-nenhum-carisma, debaixo de muitas camadas de maquiagem, fica um pouco desagradável ar. No mínimo, estranho. Quem sabe, o programa ainda não pegou o jeito.


Segundo: se o papo é informal, para que aquelas colas? Aquele plano de vôo engessado? Dane-se a preocupação em acertar. Se foi proposto para ser diferente, que assim o seja. Melhor seria fazer como a Fernanda Young: quando esquece de algo a ser dito, simplesmente é interrompida ou pede para a produção o que faltar. Que role uma conversa autêntica e que as pessoas legais de Porto Alegre não sejam transformadas em bonecos de cera com sorrisos amarelos ao irem ao programa. Que Camarote não seja pagar um mico.


O melhor no tempo perdido em frente da tevê é que ele possa ser light, que tenha ritmo. Que nos rodeie e seja basicamente ver-da-dei-ro.


Será o formato? Será a imposição de regras? A falta de idéias? As limitações técnicas? O medo? Ou esse povo desconfiado e bronco não refina nem a pau? Talvez seja mesmo Fu Lana que está deprimida por ter sido ignorada sistematicamente pela comunidade intelectual e não é convidada nem para batizado.


Enfim? o jeito é ir ao cinema, ainda.

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