Messiânicos
Fidel teria concordado com a morte de Che. Teria entregado o companheiro a pedido da União Soviética, que não queria aumentar seus problemas com …
Fidel teria concordado com a morte de Che. Teria entregado o companheiro a pedido da União Soviética, que não queria aumentar seus problemas com os americanos.
Fu Lana não tem sorte mesmo. Tanto chorou que conseguiu ir ao Seminário Fronteiras do Pensamento. Um presente pela sua persistência. No entanto, ao entrar, ouviria que Che havia sido traído. Ouviria também que, hoje, para ser de esquerda, precisa-se apenas afirmar: sou de esquerda. Em um minuto de reflexão apenas, perceberíamos que ser de esquerda, em todos os tempos, significa eleger algumas prioridades que privilegiem o coletivo. Prioridades que se transformam em conceitos como solidariedade, maiores opções aos menos favorecidos, mais oportunidades e financiamento aos pequenos produtores, aporte aos projetos sociais e outras centenas de ações identificadas com o social e que visam ao bem comum. Estamos falando em idéias, simpatias ou preferências, em ideais, enfim e principalmente. Precisamos ao menos sonhar com uma sociedade menos desigual. Precisamos pensar que há uma opção para o mundo. E o palestrante desfaz essa opção. Em nome da queda do comunismo, em nome da queda do socialismo.
Fu Lana precisou outros minutos para concluir que foram as formas de organização que falharam, que as maneiras de trabalho é que falharam, e não os ideais.
Não há como aceitar que as idéias de uma pessoa que prioriza o bem privado, que prioriza sempre o grande investimento, que prioriza o crescimento industrial sem relação de responsabilidade com o meio ambiente e que prioriza sempre o individual acima de tudo, sejam idéias de uma pessoa de esquerda mesmo que ela assim o queira. Ser de esquerda não é uma opção leviana, como quis fazer parecer Jorge Castañeda, naquela terça-feira.
Fu Lana precisa de outra chance. De ouvir alguém inflamar suas prioridades, fazer circular no seu corpo inteiro a viabilidade de um ideal. Que as esquerdas são modernas, globalizadas, tradicionais ou radicais ela já sabia. Que estão divididas conforme sua origem e desde lá, Fu Lana também já sabia. Ouviu que há uma demanda insaciável, um boom de commodities, que devemos nos contentar com 4% a 5% de crescimento e comemorar como uma vitória sobre os 25 anos anteriores. Que as desigualdades permanecem e que o Chile é o melhor exemplo da América Latina. Que a tendência é de que as esquerdas continuem maciçamente ganhando as eleições, pois há democracia e as pessoas vão querer sempre melhorar as suas vidas (talvez menos no Rio Grande do Sul).
Uma chuva sobre as poças.
Fu Lana realmente não teve sorte. Mas até o fim do ano deverá acertar em alguma terça-feira.
Antes de sair, ouviu ainda que a América Latina produz os maiores populistas da História. O exemplo da atualidade: Perón com Petróleo, ou seja, Chavez.
Só estava longe de imaginar e ar ouvir que Che havia sido traído pela esquerda de Fidel. Esta seria a implosão do último ícone incólume que embala a juventude, na guerra diária das idéias. Uma batalha que deve existir sem golpes baixos. E aquela afirmação foi um baque surdo, um dedo no olho, uma cacetada em um sujeito com as mãos amarradas. O povo não merece perder as esperanças dessa maneira. Na base do ouvir dizer.
Fu Lana percebeu que está erroneamente à espera de um novo Messias. Um Messias que lance idéias viáveis que possam ser aplicadas de modo racional e eficaz. Que diga alguma coisa nova, aproveitável para o futuro, sem apenas aquelas observações adistas. Seríamos nós, os próximos Messias? Zilhões de Messias eletrônicos? Fica no ar um novo paradigma que distraiu Fu Lana sobre aquele ageiro fracasso filosófico. Enjoy it.