Medo
Saber o medo. Da auto-suficiência no medo ao pavor mais legítimo. Viver de arrepios e de pressentimentos. De sustos gelados e ameaças atrás da …
Saber o medo. Da auto-suficiência no medo ao pavor mais legítimo. Viver de arrepios e de pressentimentos. De sustos gelados e ameaças atrás da porta. E entender o medo como a nós mesmos. Isso é ser medrosamente humano. Isso é sobreviver ao medo. |
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Conhece mais o corpo: as pernas. Andando sempre com um pé atrás, evitando levantar ou com o esquerdo ou com o direito ou até com os dois, nunca dando o o maior que os membros inferiores inferiorizados pelo medo e ensebando as canelas inclusive dos pernetas. Por isso o medo dói pelo corpo inteiro, de quem está inteiro depois dele. Dói debaixo da pele, bem ali onde temos o amor a própria. Dói no cérebro, entre um pensamento realista e outro. Às vezes, dizem, é apenas psicológico, mas então dá um medo de consultar um psicólogo! Confessar o medo? Só por medo. Quem já teve medo teve hematomas. Os que nada tem a temer, esses temem um dia ter medo. Mas, em geral, a todos o medo já provocou alguma reação. Capilar, por exemplo. E fica-se de cabelo em pé só em lembrar disso. Pra tumultuar a imaginação, o medo circula pelas hipóteses. Põe, por acaso, erro ou coincidência, nosso nome num fichário policial. Afia tesouras doidas por páginas e fotogramas de criativas autorias. Sonda os laboratórios de análises clinicas à procura de um diagnóstico de neoplasia maligna. E tenta pedir um aumento ao patrão. Toca a campainha às três da madrugada e não é ninguém. Atiça o cachorro louco na hora que você vai ando. Mostra um revólver na cintura do belo tipo faceiro que está sentado ao seu lado. Põe chiclé no butijão ao menor cheirinho de gás. Pára elevadores entre os andares. Oferece doces às criancinhas na praça. Atrasa o táxi que vai à rodoviária ou ao aeroporto. Faz o eco das adas da gente pelo mato, que dificilmente anda com o mesmo ritmo das nossas. Aparece feito espuma na lata de conserva recém comprada e aberta. Some bastante tempo com parentes e familiares que foram logo ali e já voltavam. Incentiva a ejaculaçao precoce nos amantes de mulheres cujos maridos chegarão a qualquer instante. Deixa um pacote esquisito na sua porta. Pergunta uma informação esquisita na rua. Bota idéias esquisitas na coluna do jornal? Só na sauna não percebemos o medo. Porque suamos no molhado. O medo é a dinâmica das varas verdes. O silêncio do casario. A trajetória do gato preto. A soma das cores da escuridão. O ruído sem ondas sonoras. O medo medra. (Texto de mil novecentos e dercy gonçalves, do livro Punidos Venceremos pra cá, republicado menos por nostalgia do que pela atualidade da coisa.) |
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Como anunciei na semana ada, em março aconteceu o NAC #8 - Nagfa Ambigram Challenge, proposto pelo casal Naguib & Fadilah, de Singapura. O tema deles, nesta edição, foi a expressão Thak You. Desta vez, outra inovação: não houve seleção prévia, e ambigramistas e visitantes do blog podem eleger o ambigrama que acharem o melhor. Voto direto no próprio blog, ou por email. Aqui vai uma amostra dos concorrentes, inclusive do amador ambigramático aqui. |
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