Me incluam fora dessas
Por Flávio Dutra

Sabe aquele evento com mídia bombando, cheio de atrações de peso e que as pessoas fazem fila para entrar e tem até quem vare a noite para ficar entre os primeirões? Me incluam fora deles. São verdadeiras indiadas - com o perdão dos povos originários - para um cidadão de hábitos moderados e avesso ao efeito boiada, como este que vos fala.
Não me tomem por ermitão, pois até confesso que fico com uma certa inveja de quem tem disposição e energia para encarar um Planeta Atlântida e suas atrações, a maioria das quais desconheço. Ou um Rock in Rio com sua dimensão internacional, na mesma medida de todas as dificuldades a serem enfrentadas na ex-Cidade Maravilhosa. Fico pasmo cada vez que vejo aquelas multidões acorrendo ao réveillon em Copacabana, acampadas a léguas de distâncias do palco, envolvidas em suas muvucas e revelando, com uma pontinha de orgulho e variados sotaques, de onde vieram e do que se alimentam.
Por dever de ofício, muito frequentei o nosso Carnaval no Porto Seco. Até gostava no início dos desfiles, mas lá pela terceira escola (e falo do Grupo Especial), já madrugada alta, a gente se dá conta de que ainda está na metade da folia e tem muito baticumbum pela frente. Como jornalista, por razões profissionais e depois como torcedor por adesão clubística, enfrentei aglomerações de todos os tamanhos nos estádios. Pior do que a chegada, era a saída e como a paciência não é o meu forte, prefiro agora o conforto - e sofrer com meu time - bem acomodado no sofá, com a vantagem de que em casa a cerveja é liberada e o banheiro é limpo,
Claro que tem situações bem piores do que essas, como fila de espera em restaurante no Dias das Mães, idem por vaga em motel no Dia dos Namorados, congestionamento nas estradas rumo ao litoral, fila em sessão de autógrafos, formatura de curso de Direito e chatos de boteco.
Tem também aqueles atropelos em dias de liquidações, que o comércio brasileiro importou dos EUA - ou será do Japão? É um comportamento que depõe contra o gênero humano. Empurra daqui, empurra dali, parece um arrastão e, de repente, se sobressai o fortão, carregando nos ombros uma tv de plasma de infinitas polegadas, ou o casal que tenta ajeitar o refrigerador e mais os filhos num Golzinho antigo e quadrado. E é sempre a mesma coisa.
Nessa cruzada civilizatória, fiz um pacto comigo mesmo: chatices em geral e efeito boiada nunca mais.