Marketing Político: um futuro para o PT

Enquanto profissional de Marketing, sempre me fascinou a marca do Partido dos Trabalhadores. Durante quase um quarto de século, ela foi construída; em alguns …

Enquanto profissional de Marketing, sempre me fascinou a marca do Partido dos Trabalhadores.


Durante quase um quarto de século, ela foi construída; em alguns momentos de forma intuitiva, em outros, de maneira mais planejada.


A marca PT; como produto, como organização, como pessoa e como símbolo, que são os elementos que sustentam a identidade de qualquer marca; propicia um modelo didático para a disciplina de Gestão de Marcas.


 Enquanto produto, a marca PT expressou um compromisso com a ética, com a mudança dos paradigmas da sociedade vigente e com uma nova forma de fazer política.


Como organização, expressou uma entidade voltada a um modelo de partido centrado na disciplina, numa proposta socialista, nos regimentos internos, na discussão aprofundada de temas relevantes, buscando a unicidade do discurso em todas as instâncias partidárias.


Analisada como pessoa, a marca PT sempre remeteu a um estereótipo interessante. Se fosse uma pessoa, o PT seria, possivelmente, um intelectual voltado para questões sociais, com forte sensibilidade a injustiças. Políticos e personalidades vinculados à legenda muito reforçaram esta percepção.


Por fim, a marca PT como símbolo apresenta uma variedade de aspectos, melhor exemplificáveis se citarmos a estrela, presente em grande parte da exposição gráfica da marca.


Ainda neste aspecto das simbologias, sempre me impressionou uma questão que foi um diferencial emblemático: as bandeiras de tecido usadas pela militância nos comícios, ao contrário dos demais partidos que, em campanha, utilizam bandeiras de materiais descartáveis. Tecidos duráveis indicam relações profundas e perenes, traduzindo uma relação emocional com a marca semelhante àquela que se estabelece entre torcedores e times de futebol.


Funcionando como um amálgama de todos estes elementos, esteve sempre presente a figura de nosso Presidente.


Lula, durante todo o período de construção do partido, ou a representar todas as características, ando a ser idolatrado pelos simpatizantes do PT e rejeitado pelos que se opunham às propostas da organização.


Durante seu período de crescimento, o PT chegou a ponto de, perante uma significativa parcela da população, ar a ter o monopólio da ética e da integridade moral na esfera pública.


 Apesar de algumas istrações municipais, num primeiro momento, e, mais tarde, de estaduais que não se notabilizaram pelo brilho da marca PT, os atributos da marca só reforçaram-se até que, em janeiro de 2003, o partido chegou ao poder em nível federal.


Petistas de dentro e de fora do governo aram a confundir partido e gestão pública, recheando o noticiário político de escândalos envolvendo assessores ministeriais, empresas estatais, parlamentares da base governista e, até mesmo, familiares do Presidente da República. Esta confusão, de forma prosaica, pode ser demonstrada através das estrelas petista nos jardins do Alvorada.


 A observação desavisada de pesquisas atuais acerca da popularidade do Presidente leva a crer que a mesma está sendo pouco afetada pelos eventos.


 Entretanto, é importante que se note que a imagem do Presidente e do Partido vem piorando gradualmente à proporção que estes fatos vão sendo assimilados por parcelas cada vez mais significativas da população.


A marca tenderá a um caminho sem volta. Se nada for feito, o desgaste poderá levar o PT à extinção.


Diante deste cenário, do ponto de vista do Marketing Político restam a Lula, e ao PT por conseqüência, duas alternativas.


A primeira seria enfrentar as investigações parlamentares e dos demais órgãos competentes da melhor forma possível. A julgar pelo que se pôde observar até agora, esta alternativa implicará um processo bastante desgastante, com alta probabilidade de um melancólico final de mandato.


A segunda opção consideraria a interrupção de mandato da forma mais célere possível. O Presidente pediria desculpas à Nação pelos erros cometidos e transmitiria o cargo ao Vice- Presidente. Esta decisão, embora dura e radical, seria muito mais racional do ponto de vista da marca PT e de seu principal líder. Esta alternativa, que aparentemente seria tremendamente negativa para o PT, seria muito mais indicada considerando a sobrevivência do PT a médio e longo prazo.


Considere-se, para tal, os exemplos históricos. Nixon deixou o governo em meio ao escândalo Watergate por ter obstruído a ação da justiça e alegado ignorar a ação de integrantes de sua equipe.


O chanceler alemão Willy Brandt, ao tomar ciência de que seu secretário particular era espião da Alemanha Oriental, também deixou o governo em 1974. Ninguém no país considerou a hipótese de que o chefe de governo fosse conivente, porém não era possível itir-se um líder nacional incapaz de escolher seus mais próximos auxiliares.


Em 1977, o então primeiro ministro de Israel, Isaac Rabin, renunciou ao ser constatado que sua esposa tinha 2 mil dólares em uma conta nos Estados Unidos. Note-se que não se estava falando de uma fortuna desviada ou coisa que o valha. Simplesmente, à época, não era permitido que cidadãos israelenses tivessem contas bancárias no exterior.


Nixon ou pela História como um importante presidente americano que cometeu um erro. Brandt é considerado um dos maiores estadistas europeus do  pós-guerra. Quanto a Rabin, voltou a ocupar o cargo ao qual havia renunciado, tendo colocado seu nome como um expoente na busca da solução de paz para o conflito israelo-palestino.


É improvável que a renúncia venha a ser o caminho a ser adotado. É o mais dolorido.


Perderão Lula, o PT e o Brasil.


 Lula deverá ter sua popularidade devastada em uma dicotomia entre a conivência e a falta de comando. Quanto ao PT, deverá sucumbir juntamente com o governo do qual é o principal fiador.


 Já o Brasil, como se não fossem suficientes os anos de estagnação, ficará parado por mais um ano e meio.


A prática do Marketing Político não a apenas pela busca da conquista do poder, mas, também, pela visão de longo prazo. Lula e o PT devem sair para continuar a existir.

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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