Marketing de Yeda

Encerrado o segundo turno da eleição e o seu rescaldo, tem-se a oportunidade de analisar a performance dos candidatos, seus propósitos e o resultado …

Encerrado o segundo turno da eleição e o seu rescaldo, tem-se a oportunidade de analisar a performance dos candidatos, seus propósitos e o resultado obtido.


No Rio Grande do Sul, a eleição de Yeda Crusius, vencendo Olívio Dutra por magros oito pontos percentuais, requer reflexão apurada.


O candidato derrotado é aquele mesmo que declarou abominar o lucro; que deu chá de cadeira no presidente da Ford, para depois descumprir o contrato assinado com a montadora; que nomeou, e manteve no cargo, aquele Secretário de Justiça e Segurança que adorava abraçar bandidos e que tomou posse com a bandeira de Cuba no Palácio Piratini.


O governo de Olívio foi tão ruim que nem mesmo seus correligionários quiseram que continuasse, tendo impedido sua candidatura à reeleição.


Pois com tudo isso, o Rio Grande do Sul correu o sério risco de ser novamente governado pelo senhor Olívio Dutra.


Certamente, um fenômeno deste tipo não tem uma causa única, porém, sem dúvida, os equívocos cometidos pela campanha de Yeda na área do Marketing tiveram participação decisiva.


Os equívocos começaram com a velocidade com que se reiniciou a propaganda eleitoral, quase uma semana antes da retomada na disputa presidencial. Ora, considerando os números obtidos no primeiro turno, a clara rejeição ao PT revelada pela votação de Lula no Estado e as alianças que se estavam estabelecendo, a pressa só interessava ao PT, que precisava agendar um novo tema.


A partir daí, a campanha ou a ser um processo de colocação de etiquetas em Yeda através de uma conhecida técnica de propaganda de regimes totalitários.


Yeda ou a ser a continuidade do governo Britto, a futura vendedora do Banrisul e, cúmulo do sectarismo, paulista. Em debate, Olívio teve a coragem, e põe coragem nisso, de responsabilizar Yeda pela expulsão da Ford.


Além disso, criou-se um clima de insegurança nos funcionários públicos acerca da estabilidade de seus empregos caso Yeda viesse a vencer a eleição. Não esqueçamos que é difícil achar alguém no Rio Grande que não tenha um pai, mãe, filho, cônjuge, tio ou primo que seja funcionário público. O tema agendou.


Ora, a estratégia do PT era previsível. O que não se pôde entender foi a forma pela qual a campanha de Yeda foi conduzida. Deixou que Olívio fizesse a agenda sobre temas que não interessavam, sem buscar uma outra proposta de debate.


Quando se diz agendar significa efetivamente atacar o tema, marcar o oponente. Neste sentido a campanha da governadora foi pífia. Faltou mostrar os jornais da época da expulsão da Ford, da derrota de Olívio na tentativa de buscar a reeleição, da defenestração do Galo Missioneiro de um dos trinta e tantos ministérios do governo Lula.


Finalmente, faltou perguntar a Olívio para o que foi destinado o dinheiro vivo de Marcos Valério que veio para o Estado, procurar saber quem se beneficiou do recurso não-contabilizado. Trazer o tema "mensalão" para o debate gaudério. O candidato petista deveria ter condição de explicar, uma vez que exerce posição de liderança no partido.


Certamente, pode-se dizer que esta crítica é muito ácida, que, afinal de contas, Yeda ganhou a eleição. O que se lamenta, no entanto, é que a oportunidade da larga vitória foi perdida.


Uma diferença mais significativa propiciaria um início de governo com mais objetividade e concentrado em uma agenda agressiva para tirar o Rio Grande da crise na qual teima em permanecer.


E evitaria o grande susto do fim da campanha!

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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