Letras e ritmos

Muitos efes, dois agás, um dê-me dôs. Uma pá de vogais e consoantes prá lá do meio do alfabeto. Um filme de um diretor …

Muitos efes, dois agás, um dê-me dôs. Uma pá de vogais e consoantes prá lá do meio do alfabeto. Um filme de um diretor que troca-letras só poderia ser um BO. Vamos economizar O2 e começar do início porque todo mundo tá purfa.


Fu Lana ficou futricando nas idéias. É o cinema tatibitati. Dois agás não deixaram o nome vingar: a hipocrisia e a hipérbole. Agora sexo é com efe. Sacanagem virou fornication e tirar um atraso, só se for em inglês. É a força daqueles dois cês que só arrefecem na língua do Tio Sam: a censura e a caretice. Já as vogais, definitivamente, andam em baixa. Amor chega a ser demodê, amizade gera ânsia, e esperança, esta então, causa gargalhadas e desdém. Ou seja, já eram.


Saciedade em sociedade conduz à saturação e todo o ser sacana tem sempre a sorte do sucesso. Ésses e efes unidos serão imbatíveis. A fim deles estão as sensações fúteis, frívolas e sórdidas que formulam hoje o superatual e moderno alfabeto contemporâneo. Foi-se o tempo em que a filosofia fundava um firme sonho humano. Quando as letras eram usadas com equilíbrio. Os frios efes (e ésses enrustidos) votaram pela famigerada fuligem a que foi reduzida a ex-fértil vida humana. A revolta das outras consoantes ficou aquém.


O debate e a dúvida marcaram alguns pontos contra a desistência e a derrota, mas entraram em cena a falsidade e a fantasia, confundindo a fauna e empurrando a assanhada surpresa para o som que lhe cabia. Recolhendo votos para viagem e a vertigem estavam a vaga lembrança e os três bês obóvios (sim, revisor, obóvios) perseguindo o nosso Hortelino das telinhas: um resultado bom, morno e barato - para cumprir a regra do novo acróstico cinematográfico.


Chamando os ruídos, concorrendo nas categorias de melhor som, atrasados e defasados, chegaram o crrrostilian e o chabbbu e a zoeira tornou-se complexa. O texto perdeu-se e Fu Lana ficou às favas.


As palavras queriam muito fazer sentido mas a revolta das letras deixou vítimas. As primeiras a cair foram as já citadas e simplórias  inexperientes vogais. Representantes de sentimentos arcaicos, acostumados a serem acionados no Natal e na troca de calendário, as pobres iniciais perderam para as fístulas fragilizadas. As únicas que restaram intactas, porém amarradas ao líder S maiúsculo, ainda fazem Saudade.


Um filme que figurou simultaneamente em muitas janelas para alçar vôos e acabar com meros volteios. Os efes (e ésses metidos) vieram para dizer que nem BOs irão detê-los. A criatividade, que observava de longe, ficou indecisa. Estaria ela no tempo das chanchadas, de detetives e prostitutas? Seria a herança de Walter Hugo Khouri e de suas gatinhas? Naquela época, os Efes (e ésses indelicados) já andavam se fasmando.


Seria inútil, inócuo e insípido qualquer movimento para reverter a sensação deixada no pós-filme? Murcho, melecado e, nem por isso menos másculo, o filme nos deixou assim meio trouxas, tépidos e tristes. Desesperados, dissonantes e estranhos. Um filme foda, enfim. Fomos.

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