Leitores e escritores
Por José Antônio Moraes de Oliveira


"Escrever é mentir".
Juan Carlos Onetti.
O poeta Manuel Bandeira sempre recomendava a leitura das "Cartas a um Jovem Poeta" aos jovens que o procuravam em busca de conselhos. Ele sabia que Rilke Rainer Maria, muito mais do que aconselhar, oferece reflexões a corações inseguros em busca de respostas prontas às suas angústias e dúvidas.
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Seria exaustivo listar os escritores que usaram seu talento para aconselhar aos que sonham escrever romances ou poesias. O primeiro deles deve ter sido Aristóteles, mais tarde seguido por William Shakespeare, Gustave Flaubert, James Joyce, Henry Miller, Ernest Hemingway, Gabriel García Márquez, entre outros. Com algumas variações, todos concordam e confirmam o sábio grego, que resumia seus ensinamentos em três palavras: Ética, Paixão, Razão.
Os tempos mudaram desde a Grécia Antiga e com quase certeza, os mandamentos de Aristóteles foram esquecidos - e raramente observados. Mas não poetas como Rainer Maria Rilke:
"Procure entrar em si mesmo.
Investigue o motivo que o manda escrever;
Examine se suas raízes se estendem pelos recantos
mais profundos de sua alma;
E confesse a si mesmo:
morreria, se lhe fosse vedado escrever?".
Ou o irlandês James Joyce, que aconselha em "Retrato do Artista Quando Jovem":
" Não procure por respostas que não podem ser dadas, porque não as poderia entender. Por enquanto, viva suas perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba, em um dia no futuro, consiga viver a resposta".
O argentino e joyceano Jorge Luis Borges confessou a seu amigo Adolfo Bioy Casares que por muito tempo, achou que escrever contos estava acima de suas possibilidades. A primeira tentativa foi "O Homem da Esquina Rosada", no qual trabalhou por quase seis anos. Ele recitava em voz alta frases inteiras, até encontrar o tom exato com o qual sonhava. Então escreveu:
"Eu não busco mais o tema: deixo que ele me persiga, me procure e só então o escrevo. Imaginar um conto é como entrever uma ilha. Vejo as duas pontas, sei o princípio e o fim. O que acontece entre os extremos, vou inventando, descobrindo. Engano-me muitas vezes, elimino páginas inteiras, quando me dou conta de que devo mudá-las de lugar. Todo esse processo me causa prazer."
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O conselho de Ernest Hemingway é radical e direto:
" Elimine as palavras supérfluas.
Evite adjetivos como esplêndido, deslumbrante, grandioso, magnífico. Ninguém gosta deles".
Gabriel García Márquez concorda e acrescenta:
" Uma coisa é uma história longa e outra é uma história alongada.
Se você se aborrece escrevendo, o leitor vai se aborrecer lendo".
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