Latindo e rosnando
Alguém, por esses dias, no twitter, se queixou de que, ao menos uma vez na vida, poderia ter tido uma ideia que fosse destas …
Alguém, por esses dias, no twitter, se queixou de que, ao menos uma vez na vida, poderia ter tido uma ideia que fosse destas que garantem ou folga eterna financeira ou ao menos o nome em alguma página da História.
Concordo.
Eu queria, por exemplo, ter inventado o cartório. Melhor que isso, só estacionamento, que tem custos muito mais baixos, mas duvido que movimente tanto dinheiro quanto estes lugares cheios de gente sonolenta que não se anima nem com o entra e sai que supera qualquer lugar da moda de qualquer parte do mundo.
Dizem que as otoridádi brasilêra estão querendo menos firma reconhecida na burocracia nossa de cada dia. Me deu um dó dos coitadinhos dos donos de cartório - vão ter de abrir mão do jatinho será? Acho que teremos de fazer alguma coisa para ajudar essa gente que viveu à custa do carimbo e agora vive à custa do selo digital e, claro, do saco cheio de cada cristão que precisa "validar" um documento. Aliás, papel para comprovar seja lá o que for é uma das invenções mais cruéis que o tal ser humano criou para ele próprio. Temos de comprovar tudo - que nascemos, que estudamos, que pagamos nossos impostos, que descontamos para a previdência social e, evidentemente, que morremos. E não basta juntar provas disso tudo. Tem de ter o tal documento oficial.
Como o que o INSS acaba de pedir às minhas advogadas: uma declaração oficial de que trabalhei no Governo do Estado, com data de entrada e saída e também os regimes jurídicos e previdenciário em que se deu este fato. Como eu havia mandado às guerreiras Carolina Fernandes e Cristina Benedetti, as melhores especialistas em direito previdenciário do Rio Grande do Sul, pastas e pastas de contracheques e mais tudo o que imprimi do tal Portal do Cidadão, fiquei surpresa: ué, mas não chega isso, gurias?
Não. Não chegava. Tinha de ter o maldito papel oficial.
Logo eu, que odeio andar atrás de papelada, e que hoje sofro as consequências desta minha vaidade vã por conta do que a Previdência Social está fazendo contra mim, pois tive de sair à cata do tal documento. Pedi ajuda ao Joabel Pereira, colega e amigo, hoje o cara da Comunicação Social no Piratini, e ele me disse: tem de ir nos lugares em que trabalhou e solicitar o papel.
Telefonei então para o RH da Cultura, falei com a Márcia, doce pessoa com quem convivi por três anos e meio, e, além de matar a saudade, encaminhei o pedido. Falei com Mara, na Casa Civil, também sempre gentil, e fiz o mesmo. Hoje, pedi a um motoboy que fosse apanhar os documentos e levá-los ao escritório das advogadas. Isso porque estou calma! Fosse outra época, com certeza teria entrado pelo fio do telefone para meter a boca nos dignos representantes da burocracia estatal da Previdência para gritar: má-vontade, cartorialismo, perseguição etc etc.
Aí, me indago. Se eu, que tenho ainda amigos que podem me ajudar indicando caminhos já perco três dias da minha vida para comprovar o que podia ser comprovado com outro lote de papelada já existente, o que sobra para as criaturas sem referência que precisam provar, neste emaranhado de burocracia maldosa, que são elas mesmas e podem receber aquilo a que têm direito?
Tenho os de riso histérico quando vejo aquela campanha calhorda do desgoverno Lula dizendo que aposentadoria agora é em 30 minutos. Lamento que nenhum jornal, nenhuma emissora de rádio ou tv ou algum site ou blog jornalístico se dê ao trabalho de acompanhar alguém que acredita nesta balela da meia hora para se aposentar. Infelizmente, além de viver sob o despotismo de uma ditadura gauche-caviar barato, vivemos a decadência do jornalismo investigativo. E eu fico aqui, latindo e latindo. Azar. Au au para todos os safados deste país. Bem alto e com rosnados.