Jovens pensam em uma vida com menos internet
Por Elis Rann


O desafio é ficar longe do celular por 24 horas. Mas como incentivar jovens e adolescentes a se afastarem da internet? Essa inquietação está presente no cotidiano das famílias em diversas partes do mundo.
E o tema é cada vez mais sério. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking dos países onde a população a mais tempo em frente às telas. Uma pesquisa realizada pela Electronics Hub identificou que os brasileiros interagem, em média, 54% do dia com dispositivos eletrônicos, o que representa aproximadamente 9 horas diárias: é muito tempo conectado!
Desde 2013, com a massificação dos smartphones, pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisa de Opinião vêm identificando a crescente dependência dos usuários. Eles se conectam para usufruir dos benefícios da tecnologia, mas acabam sendo conduzidos pelo algoritmo a permanecer online sem perceber os malefícios.
Não podemos esquecer que os algoritmos das redes sociais analisam comportamentos e preferências para recomendar conteúdos altamente relevantes, criando um ciclo contínuo de estímulo. Recursos como notificações, rolagem infinita e recompensas sociais (curtidas, comentários) ativam mecanismos psicológicos que incentivam a permanência online.
Novos estudos de institutos de pesquisa europeus indicam que quase metade dos jovens da Europa gostariam de viver em um mundo sem internet. Quatro em cada dez jovens declararam que costumam mentir para os pais sobre o que acontece na web e um terço afirma que finge ser outra pessoa na internet.
Metade dos jovens acredita que deveria haver um toque de recolher digital para limitar o o a aplicativos e sites após as 22 horas. Isso demonstra que parte deles já percebe os riscos da internet, especialmente em relação ao vício e ao isolamento que ela pode causar.
Não é à toa que vêm crescendo os movimentos na Europa para reduzir a exposição dos jovens à internet. O objetivo é preservar a privacidade e a qualidade de vida, especialmente no que diz respeito à saúde mental. Nesse contexto, a tendência de uma vida mais desconectada está sendo incentivada por iniciativas como o Offline Club (https://www.theoffline-club.com/), que busca ajudar jovens a substituir o tempo de tela por momentos de interação na vida real. As reuniões de detox digital ocorrem em formato de eventos, proporcionando diversas atividades e interação. É um espaço onde os jovens podem desacelerar, ler um livro, jogar um jogo de tabuleiro, conversar, dar risada ou até mesmo paquerar, experiências únicas que só o mundo real permite.
No Brasil, conseguimos a aplicação da Lei 15.100 de 2025, que restringe o uso do celular em sala de aula e visa proteger o bem-estar e o desenvolvimento físico e mental dos alunos, além de melhorar o ambiente escolar, reconectando professores e estudantes.
Manter os estudantes desconectados em sala de aula tem sido um bom começo para que outros projetos de interação social no mundo real, tão necessários para garantir uma vida mais humanizada, se fortaleçam.