Irritando o telespectador verdeamarelo
A televisão continua tendo seus mistérios e eles não estão, como seria de se esperar, em seriados como Charmed, Ghost Whisperer ou Medium e …
A televisão continua tendo seus mistérios e eles não estão, como seria de se esperar, em seriados como Charmed, Ghost Whisperer ou Medium e assemelhados. Estão em programas como Irritando Fernanda Young, no GNT, ou no trabalho da "enviada especial" Fátima Bernardes para mais uma Copa do Mundo, para a Globo e seus braços em canais pagos.
Ambas mulheres de trajetórias reconhecidas, Fernanda e Fátima proporcionam, atualmente, momentos que vão do puro constrangimento ao patético total. Irritando Fernanda Young deve ter surgido das possibilidades histriônicas de Fernanda exibidas durante sua participação no Saia Justa, coordenado por Mônica Waldvogel. Chegada numa polêmica, Fernanda fazia o contraponto xiita às outras mornas integrantes do sofá de fofoca pretensamente feminista-intelectual que é o programa. Saiu de cena e, de repente, aparece no ar com uma produção em que é a estrela. Quem se der ao trabalho de assistir a um que seja dos Irritando verá o que a ganância por refletores e, claro, mais grana, faz com uma pessoa - e com uma emissora de televisão. A moça que, junto com o parceiro Alexandre Machado, criou textos de besteirol muito bem acabados como Os Normais, nem ao menos irritar consegue. Da abertura às entrevistas, é de doer assistir à redatora merecidamente entronizada como sagaz, capaz de desvendar um tipo em duas frases nos seus roteiros, se deixando exibir como uma adolescente dos anos 50 pirada e estúpida. O programa é ruim, Fernanda está falsa o tempo inteiro em cena, os convidados, coitados, fazem um enorme e inútil esforço para entrar na brincadeira, mas nada salva aquela neurastenia coletiva que não sai do lugar. Como o programa arruma patrocinadores, é mais um mistério da televisão brasileira.
Já "Fátima Bernardes repórter" talvez seja mais sério ainda. Neste caso, não existe a desculpa de ser uma produção buscando bancar a diferente e engraçadinha. Trata-se de cobertura jornalística de um fato real, a Copa do Mundo. Um evento que movimenta milhões e, teoricamente, os melhores profissionais de comunicação em busca de um retorno convincente às empresas que bancam este magnífico circo quadrianual. Quem inventou Fátima Bernardes repórter deve ter sido o mesmo maldoso que a colocou dançando balé num quadro do Fantástico, faz tempo. Possivelmente, nem William Bonner concorda e, intimamente, deve estar pensando: "Eu é que deveria estar por lá". E antes que me chamem de machista, já vou dizendo: nem sei se ele seria a melhor solução. Agora é moda as emissoras usarem seus âncoras de noticiários também como apresentadores de programas, talvez uma medida econômica - "para compensar altos salários, vamos dar mais trabalho a estes jornalistas!" Nem sempre funciona, aliás, quase nunca. E ainda vamos ter até o final da Copa para ar Fátima e suas perguntas deslumbradas e sem interesse jornalístico diariamente. Pior: quem quiser acompanhar a briga do Brasil pelo hexa via Globo e família terá de dormir assombrado pelo sorriso meigo e pelo olhar maternal de Fátima 30 segundos no ar depois de "entrevistar" Ronaldinho Gaúcho. Será que a tia Hebe não faria melhor?