Irmãos e companheiros
De todos os recados que Lula tem ado desde que foi confirmada sua eleição à presidência da República, poucos são tão elucidativos quanto este …
img src="fotos/coluna_eliziario_29_10.jpg" align="right"> De todos os recados que Lula tem ado desde que foi confirmada sua eleição à presidência da República, poucos são tão elucidativos quanto este endereçado aos próprios petistas enquanto elogiava o vice, José de Alencar, do PL: "Nem todo irmão é um grande companheiro, mas todo grande companheiro é um verdadeiro irmão". Frase de efeito para reforçar outra: "Vou ser o presidente não de um partido, mas de 170 milhões de brasileiros". Nem poderia ser diferente, mas a insistência do presidente eleito nesta afirmativa, repetida a cada discurso, não serve apenas para tranqüilizar a Regina Duarte ou o FMI. Destina-se, antes de tudo, a informar a certas alas do partido que sua vitória deve-se a uma decisão da maioria do povo, e não somente dos militantes.
Lula tem se mostrado eficiente em seus recados, desde os dirigidos aos próprios petistas quanto os enviados ao Congresso ou ao mercado financeiro internacional. Tem, igualmente, mantido o bom humor em todas as aparições públicas. Dado essencial para quem ampliou significativamente a lista de sócios do clube de simpatizantes por ter aprendido a sorrir. Atribui-se grande importância ao trabalho do marqueteiro Duda Mendonça, e ele de fato foi bastante competente em toda a campanha, mas há detalhes que talvez pertençam ao próprio Lula. Se os cabelos brancos lhe conferem maior credibilidade, ele deve agradecer isso ao inevitável envelhecimento. Se hoje usa barba sempre bem aparada, cabelos cuidadosamente penteados e ternos de caimento perfeito, é porque sua vida melhorou nos últimos anos e porque os cabelos brancos sempre implicam algum aprendizado. Será melhor para o Brasil se a participação de Duda tiver sido apenas cosmética. Cara feia pode ser útil no palanque, não na cadeira presidencial.
O PT nacional parece cada vez mais distanciar sua imagem de facções provinciais. O radicalismo inicial foi necessário, havia uma ditadura a combater, direitos a reconquistar, censura e truculência de grosso coturno a enfrentar. Figurinhas carimbadas do partido, para as quais o sorriso soa como desrespeito à fome nacional, tendem a desaparecer como as leis de exceção. As lições tiradas das urnas no último domingo servem tanto para avisar a alguns segmentos da sociedade que o povo quer mudanças quanto para alertar políticos de variados matizes para o risco de encerrarem precocemente suas carreiras. Dinossauros, como bem o sabemos, podem ser grandes, poderosos e inesquecíveis, mas estão extintos.
Entender a complexidade do momento é apenas um dos desafios da mídia. O maior deles é patrões e integrantes das redações aprenderem a se comportar. Salvo exceções, os barões da imprensa brasileira sempre estiveram pouco propensos a engolir Lula e o PT. Em sua maioria, as equipes de reportagem sempre estiveram repletas de profissionais que só não cobriam as eleições com a estrelinha no peito porque as normas da empresa proibiam. Ambos serão obrigados a se adequar. Ainda que por medo, mas de preferência que seja por respeito, os patrões terão de aceitar a nova realidade. Ainda que por pressão dos patrões, mas de preferência que seja por respeito ao leitor, os repórteres terão de se conter. Presidência é coisa séria. De todos os envolvidos, patrões, repórteres, dinossauros, militantes e aliados, Lula parece ter sido o primeiro a entender isso. Que sigam o exemplo do chefe.
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Este é meu 50º artigo para a Coletiva.Net. E exatamente hoje faz um ano que publiquei o primeiro. Queria falar de algumas outras coisas, fazer homenagens, etc, mas a história tem preferência.
Dedicado a Raul Rubenich
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