Intolerância

Cerca de quatro mil gays e lésbicas foram executados no Irã desde a tomada do poder pelos aiatolás, em 1979. Neste momento, dez ativistas …

Cerca de quatro mil gays e lésbicas foram executados no Irã desde a tomada do poder pelos aiatolás, em 1979. Neste momento, dez ativistas de origem árabe aguardam o cumprimento da sentença de morte naquele país por defender os direitos dos homossexuais e de outras minorias. Há um ano, dois rapazes, um de 18 anos, outro de 16, foram enforcados em praça pública na cidade de Mashhad, depois de confessarem ter mantido relações sexuais. Antes, aram 14 meses na cadeia e receberam 228 chibatadas cada um. A legislação local permite a condenação à morte de meninas de 9 anos, e de meninos a partir dos 15.


Na Arábia Saudita, no ano ado, um caso chamou a atenção, embora se repita o tempo todo: a polícia prendeu 120 pessoas pelo crime de festejar um casamento homossexual. O anfitrião foi condenado a dois anos de prisão e a duas mil chicotadas. A mesma pena foi aplicada e a um conviva que usava peruca e a outro por "comportamento feminino". Outros 31 homens foram condenados a períodos de seis meses a um ano de prisão e 200 chicotadas cada um pela simples presença no local. De acordo com as leis do país, homossexuais estão no mesmo nível de assassinos e estupradores.


Ontem, segunda-feira 7, a justiça alemã concedeu asilo político a uma lésbica iraniana. A mulher, de 27 anos, vive há dois anos em território alemão e não teve muito trabalho para convencer os juízes de que a deportação representaria a morte.


Hoje, terça-feira 8, começa em Santo André, na Grande São Paulo, o julgamento de Fabiano Maio Eleno, de 23 anos, um dos acusados do assassinato de Rodrigo Monteiro Sakavicius, morto por ser homossexual. O crime ocorreu há dois anos no distrito de Paranapiacaba, em Santo André. Monteiro, de 23 anos, estava na região para praticar um ritual Wicca, bruxaria que invoca os poderes da natureza. Robson Gonçalves da Silva e Eleno se apresentaram como guias turísticos credenciados pela prefeitura. Eles disseram em depoimento que se irritaram com "o jeito efeminado" da vítima, que "tinha muitas frescuras e desmunhecava", por isso decidiram que merecia morrer.


Ditaduras teocráticas como o Irã, entulhos medievais em pleno século 21, podem parecer muito distantes. Ao menos temos um Estado laico, mas não podemos baixar a guarda. A intolerância espreita nas esquinas.

Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

Comments