Inspiração piradora
Outro dia, olhando um céu com uma paleta de cores com que minhas retinas não estavam acostumadas (nunca me acostumo: é o meu costume), …
Outro dia, olhando um céu com uma paleta de cores com que minhas retinas não estavam acostumadas (nunca me acostumo: é o meu costume), fui tomado por um alvoroço interno. Chegou até à epiderme, ali se eriçou. Em seguida, uma não convidada sensação de sossego me sossegou. Me senti um carneiro a imaginar ovelhinhas nas nuvens. Acho que me desalertei por inteiro, o que não é pouco. Assim me vi tomado por otimismo inesperado, já que nem esperava por ele, naquela hora e local. O céu pintando o sete lá em riba e eu embasbacado cá embaixo. Tudo vai dar certo, pensei. E, com o resto dos meus pensamentos, pensei e parei: peraí, Fraga, analisa essa frase, analisa. Surpreendentemente (eu mesmo me surpreendo quando não aparecem surpresas), não me dediquei à análise. Continuei ocupado com os tons róseos, cerúleos, violáceos, magentas, dourados e ferruginosos no céu que não mais nos protege. Sem mais nem menos (na verdade, acho que era com mais sem menos) as cores atravessaram meu prisma pessoal e através dele se converteram num único feixe, esmeraldino. Coisa esplendorosa, com o perdão do adjetivo. Olhei ao redor, temeroso: e se alguém me reconhecesse assim, esperançoso em plena tarde? Um humorista de plantão, um cético experiente, um desconfiado profissional, um pessimista promissor (tudo isso com o coletivo, jamais com o indivíduo) animado por raios fúlgidos fora do hino nacional. Lembrei minha bugiganga de 1975: "Tudo vai dar certo. Mas não pra nós, não aqui, não agora." À lembrança, novos jorros cromáticos tingiram o entardecer. E a paz, alienada desse mundo e dessa época em que vivemos, me fazendo companhia. Par ímpar, eu e ela. Enquanto buscava forças descrentes em mim, o horizonte me abria seus braços de luz. Já ia desistir de resistir quando o céu normalizou-se em chumbo e cinza. Um fim de tarde como qualquer outro. Aos poucos recuperado pela nova visão, mirei as sombras inspiradoras. Pronto pra refletir, ansioso pra criar. Inútil. O efeito otimista permanecia. Tentei ser filosoficamente amargo mas o que consegui foi: "Tudo vai dar certo. Mesmo que não dê." Gracinha. Me afastei. Ali no Gasômetro, tem dias que o céu é fogo. |
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Bugigangas acaloradas
oOo 40 graus à sombra: assombra e não há sombra. oOo Futuro apelo publicitário de agências de turismo: oOo Antes, Deus dava o frio conforme o cobertor. oOo A expressão "período sujeito a chuvas e trovoadas" oOo Eu sou do tempo em que a Terra ainda tinha |
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? a eletrônica, com seus avançados recursos para quebrar a privacidade, promover o voyeurismo e estimular o controle, trouxe, além do Grande Irmão, também a Mãe Descomunal, o Enorme Pai, a Monstruosa Família, sem falar no Gigantesco Chefe e na Colossal Vizinhança. |
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Rodrigo Rosa pinta lá fora O Rodrigo Rosa ganha prêmios de humor como se não soubesse fazer outra coisa senão cartum. E sabe: ilustra livros infantis como ninguém e quadriniza como nenhum outro. Juntando tudo, dá um artista gráfico internacional como só ele. E, agora, internacionalizou-se de vez: foi pra Europa mostrar a que veio. Desenhando tudo que desenha, o Rodrigo Rosa vai virar por lá o que há muito tempo já é por aqui - doutor em artes gráficas. Isso no maior centro mundial da coisa, Barcelona. Já reconhecido e premiado nacional e internacionalmente, o Rodrigo vai apenas aquarelar novos horizontes, colorir outros mercados, ilustrar mais ainda a sua carreira. Enfim, está com o futuro traçado, à mão livre ou com mouse. Isso você pode conferir no novo site, em internacionalíssimo endereço (www.rodrigorosa.com), além do seu blog de desenho. Quem vê eu elogiar o Rodrigo assim, vai pensar que o iro de graça desde guri. Isso mesmo. É que ganhei dele uma exclusiva oportunidade de me antecipar à iração geral. |
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